16 agosto 2006

Glauco Matoso II

Um haicai sem rima
parece clima nublado:
Sombra de obra-prima.

Tudo se reduz
ao produto da ferida:
poesia e pus.

O poema é bom
quando tom combina com
aroma: marrom.

Que será que faz
do fugaz sopro dos gases
um dos tais haicais?

Fora da privada
fica mais politizada,
mas não muda nada.

Se o governo trai,
vai pra puta que o pariu!
Voto não tem pai.

Político gordo
faz acordo dos dois lados:
um pra cada lordo.

Eleição direta
tira do proleta a chance
de tirar da reta.

Presidente eleito
tem um defeito só: sempre
vem quem diz "Bem feito!".

Uma nação séria
não faz pilhéria das outras:
ri da sua miséria.

Golpe militar.
Basta um par de generais
num papo de bar.

Por mais que ele mande,
mais se expande o desrespeito.
O Brasil é grande.

Mais ou menos trens.
Multiplicação de filhos.
Divisão de bens.

Só sobrou a merda,
que sequer dá pro rateio,
pra atender a Esquerda...

Molhada é "meleca".
Se seca, já virou "monco".
Nariz não defeca.

O fedor do queijo
é o bocejo duma boca
que rejeita o beijo.

Um defunto horrendo.
Bem do fundo brota vida:
vermes se mexendo.

Catinga no ar:
carne, sangue, pus, catarro...
Lixo hospitalar.

Uma gota enorme
que dorme no microscópio:
cor de coliforme.

Merda dura é foda:
sai sem dó da tripa e — Ai! —
corrói a hemorróida.

Sai menos fedor
se a merda for arejada
no ventilador?

Puxa, como fede!
É de vaso sem descarga!
Tem tampa que vede?

Veja se me entende:
Tem de encarar cu sem medo.
Merda não ofende.

Bunda é que nem grimpa:
se repimpa enquanto pensa.
Nunca fica limpa.

Só cego não vê.
Você caga colorido.
Tá pensando o quê?

Colhões de mamonas.
Azeitonas de cabrito.
Pelúcia nas conas.

Duras são tuas fezes?
São reveses da clausura...
Só resta que rezes.

No trânsito lento
tento entrar na transversal.
Engarrafamento.
Cadáver no asfalto.
Do alto do viaduto
aplaudem o salto.

Chuva na avenida.
Cão desbrida na enxurrada.
Luta pela vida.

Casa com mansarda
não tarda a ser demolida.
Obra de vanguarda.

Travesti de porre.
Gilete no pó reflete.
Um pivete corre.

Cena original:
Vaginal como um paquete,
flui a Marginal.

Ator principal.
Palmas para o pipoqueiro
do Municipal.

Houve algum engano:
São João com Ipiranga
fica em São Caetano.

Rock sem guitarra
é fanfarra maquiada:
Só bundão se amarra.

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