15 agosto 2006

Conversão: mais uma face da homofobia?

Minha vida fora da Exodus.

Os danos causados às mentes gays jovens pelos grupos como o Exodus International podem ser devastadores. David Nuc Nguyen tem problemas até para escrever sobre o assunto.

Exodus International (an antigay site)



Eu me lembro de encarar meu reflexo no espelho do banheiro seis anos atrás. A água quente corria. Eu tinha uma navalha em minhas mãos, e estava pronto para fazer o impensável. Eu não podia mais conviver com a guerra que se desenvolvia dentro de mim. Tanto quanto eu me lembrava, eu passei minha vida lutando com a vergonha e culpa instiladas em mim pela minha formação católica.

Eu havia saído do armário há alguns anos, e fui pressionado por minha família a procurar ajuda com um cara chamado Jason, um conselheiro da Portland Fellowship, um ministério do "ex-gay" grupo Exodus International. Por três meses, nós lemos as Escrituras e rezamos, e partilhamos nossas lutas internas contra a homossexualidade. Se eu permanecesse no "estilo de vida homossexual", eu seria sempre "disfuncional, nunca um ser humano completo e nunca conheceria a paz", ele me disse. Essas sessões apenas aprofundaram meu ópdio por mim mesmo.

depois que desisti do aconselhamento, minha família desistiu de mim. Tive que sair de casa e abandonar meus sonhos de ir para a Universidade de Berkeley, California. Mudei para Seattle porque eu tinha uma bolsa para a Universidade de Washington. Arrumei um emprego com salário mínimo e às vezes tinha de optar entre pagar o aluguel ou comer. Esses anos foram os mais solitários e difíceis de minha vida. Eu pensava que Deus não permitia aos gays serem felizes e prósperos na vida.

Mas eu descobri em Seattle que não estava sozinho. À medida que me tornava um membro ativo de minha comunidade, eu encontrei outras pessoas com experiência semelhante. Chris Williams, 24, também tinha uma vida atribulada depois de seu encontro com a Exodus. "Mesmo depois de rezar e ir às sessões, eu não conseguia controlar me desejo por outros homens", ele recorda. "Eu resolvi me entregar aos meus desejos e entrava na Internet à procura de sexo anônimo. A culpa era insuportável. Subconscientemente, eu desejava destruir meu corpo, o que me permitia cometer o pecado". Não demorou para Williams ir para as ruas e usar drogas. Então ele contraiu HIV.

Assim como eu, Williams foi aconselhado pelo pessoal da Exodus. Mas eles mesmos admitem não serem conselheiros. Antes de escrever este texto, eu contatei Ron Shaw, que trabalha com Ministros Metanoia, um grupo da Exodus na costa dnorte do Pacífico. Na identificação dos emails de Ron, pode-se ler:"Ron Shaw não é um conselheiro licenciado pelo estado. Todos os conselhos oferecidos são baseados em princípios espirituais baseados na Bíblia". Shaw disse-me que ele ajudava as pessoas a "verem o comportamento que controla a vida delas e ajudava-as a descobrirem como escapar de um padrão de respostas escravizantes a estes impulsos".

"O conselho oferecido por Shaw parece um bocado com ciência. Um dos aspectos mais perigosos da "terapia reparadora" é que ela frequentemente usa linguagem pseudocientífica. Isto pode torná-la atrativa para as pessoas jovens. Esta terapia é baseada em preconceitos religiosos e políticos, e rouba das pessoas a chance de manterem uma vida feliz, produtiva, como saudáveis homens e mulheres gays, diz Matthew Brooks, um profissional de saúde mental em Seattle.

Minha luta é maior devido à minha experiência com a Exodus, mas não permito que isso destrua a minha vida. Chris também superou esta experiência e hoje ajuda outros jovens com problemas com drogas e com o HIV.Porém, a Exodus permanece comigo. Eu sinto que deus me castigará se eu escrever este trabalho e falar contra a Igreja. Felizmente, eu sou como meus pais, teimoso e determinado".

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Para alguém como eu, deserdado por ter assumido minha sexualidade, este texto é comovente e até sinto um certo alívio por não existir, no Brasil, um movimento tão forte de cura para os gays como há nos EUA. Porém, o ovo da serpente já foi posto, a bancada evangélica está ativa, boicotando qualquer iniciativa de garantia dos direitos dos homossexuais, lançando campanhas para cura no Estado do Rio. É preciso estar atento!!!!
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esta matéria foi publicada em The Advocate August 15, 2006

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