27 outubro 2008

Performatividade: O QUE SERÁ?

Fora do Sujeito e Fora do Lugar: Reflexões sobre Performatividade a Partir de uma Etnografia entre Travestis

Richard Miskolci

Larissa Pelúcio

Texto publicado na revista Gênero (UFF), 2007, Primeiro Semestre de 2007, v.7, n.2, p.257-267 e também incluso em versão pouco distinta no CD do 30.o Encontro Anual da ANPOCS (2006).



Resumo: O artigo discute a recepção brasileira da teórica queer Judith Butler, com especial atenção ao seu conceito de performatividade. A partir de uma análise do caráter metafórico de suas exemplificações sucessivas nas obras de Butler e de sua adaptação à nossa realidade sócio-histórica, intentamos um exercício de aplicação do conceito de forma coerente com seu caráter normativo e programático original. Assim, utilizamos uma etnografia entre travestis como meio exemplificador do caráter reiterativo de normas sociais do conceito de performatividade.

Judith Butler, a teórica queer mais popular em nosso país, sublinha em seu livro mais recente (Undoing Gender. 2004) a forma como sua produção se insere em uma linha feminista. Segundo ela, seu pensamento tem sido influenciado pela Nova Política de Gênero (News Gender Politic), “uma combinação de movimentos que englobam ao transgênero, a transexualidade, a intersexualidade e suas complexas relações com a teoria feminista e queer”. E prossegue:

Creio, entretanto, que seria um erro sucumbir a uma noção progressiva da história pela qual se entende que diferentes marcos vão se sucedendo e suplantando-se uns aos outros. Não se pode narrar uma história sobre como alguém se desloca do feminismo ao queer e ao trans. E não se pode narrar essa história, simplesmente porque nenhuma dessas histórias pertence ao passado: essas histórias continuam ocorrendo de forma simultâneas e solapadas no instante mesmo em que as contamos. Em parte se dão mediante as formas complexas em que são assumidas por cada um desses movimentos e práticas teóricas. (Butler. 2006: 17)

Mais à frente, Butler reitera seu reconhecimento às contribuições teóricas do feminismo. A filósofa entende que este ainda propõe desafios aos movimentos sociais e identitários e que não se pode perder de vista que o feminismo tem afrontado sempre a violência (sexual ou não) contra a mulher e que tal posição pode (e deve) servir de base para uma aliança do feminismo com outros movimentos, uma vez que “a violência fóbica contra os corpos é o que une o ativismo antihomofóbico, anti-racista, feminista, trans e intersex (p. 24)”.

Situar a obra de Butler em relação a estas alianças teórico-políticas é essencial, uma vez que uma das propostas deste texto é justamente localizar e contextualizar seu pensamento na intersecção entre política e reflexão teórica. De qualquer forma, estas dimensões são complementares, mas não idênticas. A teoria queer se volta contra a legislação não-voluntária da identidade (Butler, 2006:22) e, neste sentido, busca desvelar os mecanismos sociais que estabelecem imposições identitárias. A reflexão teórica e o arcabouço conceitual de Butler não permitem usar o compromisso político de forma a tendenciar o exercício analítico, no sentido de diminuir o caráter de rigidez científica. A análise precisa mostrar o que impede a legislação voluntária da identidade. O perigo está em atribuir aos sujeitos a capacidade heróica de se posicionarem fora das normas socialmente impostas como se fosse possível atribuir a si mesmo uma categorização diferente daquelas disponíveis no seu contexto sócio-histórico. Um exemplo dado por Butler é das crianças intersex, as quais, necessitam de uma categoria para tornar suas vidas habitáveis, categoria essa que lhes será atribuída. Assim, ao invés de esperar dos sujeitos que se autocategorizem o foco da discussão deve se voltar para fora deles, ou seja, para a possibilidade de ampliação do repertório de identidades existentes.

Infelizmente, algumas pesquisas se apropriam de conceitos butlerianos, mas os distorcem por meio de uma concepção voluntarista do sujeito. Nestes estudos, é como se o sujeito pudesse, por simples vontade, decifrar e moldar a realidade social e histórica segundo seus desejos individuais. Isto se volta contra a visão da própria autora, para a qual é claro o caráter distinto da realidade e o que dela poderia ser criado. A prática teórica permite apontar o que pode ser modificado socialmente, mas apenas por meio de uma crítica do gênero como uma modalidade de regulação das identidades. Neste sentido, a análise não pode inferir dos sujeitos – além de seus desejos conflituosos com a ordem de gênero vigente – um plano ou mesmo a capacidade de romper com as normas socialmente impostas. Pode, isto sim, apontar formas de subjetivação que resistem de maneira a constituir sujeitos singulares, seres que produzem diferenças.

Em seus estudos sobre a transexualidade, Berenice Bento discute a sujeição das sexualidades que não seguem a norma heterossexual. A partir de autores como Colette Chiland, que aponta para o conformismo na visão de gênero dos/das transexuais, reproduzindo estereótipos que em nada questionam a ordem heteronormativa, Bento inquire: “por que exigir das pessoas que vivem a experiência transexual que sejam subversivas, quando também compartilham sistemas simbólicos socialmente significativos para os gêneros? Será que a própria experiência já não leva em si um componente subversivo, na medida em que desnaturaliza a identidade de gênero?” (Bento. 2002: 13). Esse processo de desnaturalização é o que denominamos de conflito com a ordem vigente de gênero, mas que não pode ser tomado como um enfrentamento engajado. Tal experiência de conflito pode ser até mesmo provocativa e desestabilizadora, mas não é capaz por si só de modificar a norma.

A relativa popularidade de conceitos desenvolvidos por Butler nos estudos brasileiros contemporâneos sobre sexualidade e identidades sexuais não-hegemônicas revela uma incorporação mecânica e descontextualizada das reflexões e procedimentos propostos pela filósofa norte-americana. Tal fato tem diversas razões. Além do contato tardio e parcial – devido às poucas traduções - que a maioria de nossos pesquisadores teve com sua obra há a questão científica da propagação de um conceito, a qual, infelizmente, pode se dar por difusão, o que o dilui e neutraliza. Como observa perspicazmente Mieke Bal:



A difusão é o resultado de uma ‘aplicação’ não-justificada e casual de conceitos. A aplicação, neste sentido, lega o uso de conceitos como rótulos que nem explicam nem especificam, apenas nomeiam. Tal rotulação continua quando um conceito emerge como moda, se a busca por um novo significado que deve acompanhar seu uso apropriado. Lembro vividamente da freqüência súbita da palavra ‘estranho’ [uncanny], por exemplo, e, também, de forma muito incômoda, um certo abuso da palavra ‘ trauma’. (Bal, 2002: 33).



Sem dúvida, na obra de Butler, o conceito que mais sofreu difusão foi o de performatividade. Nenhum outro conceito queer gerou tantos mal-entendidos aqui e em todo o mundo. O primeiro engano, logo notado por Butler, foi o de associar performatividade à performance, ou seja, a compreensão errônea de que este conceito fizesse a apologia da capacidade dos sujeitos de se rebelarem com relação às normas. Em seu livro seguinte, Bodies that Matter (1993), ela esclareceu os mal-entendidos. Como Pierre Bourdieu observou em uma nota de seu A Dominação Masculina:



Judith Butler parece ela própria rejeitar a visão “voluntarista” de gênero que ela parecia antes propor em Gender Trouble quando escreve: “The misaprehension about gender performativity is this: that gender is a choice, or that gender is a role, or that gender is a construction that one puts on, as one puts clothes in the morning.” (Bourdieu, 1999: 122).



Em Bodies that Matter, Butler retomou de maneira esclarecedora o conceito de performatividade e o desassociou da idéia voluntarista de representar um “papel de gênero”, construindo para si um corpo que expresse e marque uma condição de escolha do sujeito que adota uma identidade. Ao contrário, ela demonstrou que a performatividade se baseia na reiteração de normas que são anteriores ao agente, e que sendo permanentemente reiteradas materializam aquilo que nomeiam. Assim são as normas reguladoras do sexo, são performativas no sentido de reiterarem práticas já reguladas, normas ou um conjunto delas, materializando nos corpos, marcando o sexo, exigindo práticas mediante as quais se produz uma “generificação”. Não se trata, portanto de uma escolha, mas de uma coibição, ainda que esta não se faça sentir como tal. Daí seu efeito a-histórico, que faz desse conjunto de imposições algo aparentemente “natural”.

Ainda que em Bodies that Matter Butler resolva esta questão, ela também abre espaço para outras críticas e problemas para seus leitores, particularmente os cientistas sociais, ao optar por explorar a psicanálise lacaniana como forma de discutir os limites do estruturalismo e a possibilidade de mudança do simbólico. Apenas em seu livro mais recente expôs claramente o inelutável caráter sócio-histórico dos estudos queer. O exemplo mais claro deste caminho progressivo em direção ao social e ao histórico está em sua definição mais recente de “inteligibilidade como aquilo que se produz como conseqüência do reconhecimento do acordo com as normas sociais vigentes.” (Butler, 2006: 15)

Se a inteligibilidade é condição de reconhecimento e, este, de sobrevivência, ser reconhecido/reconhecida pode implicar em ter que se “desfazer” justamente daquilo que diferencia a pessoa e a faz desejar ser tomada como humana, viável e reconhecível para além das normas disponíveis. Assim, no caso dos intersex, aceitar a categorização masculino/feminino a partir da construção de um sexo ou da patologização de sua condição pelas pessoas transexuais, coloca-nos diante de um dilema que não pode ser resolvido no plano do indivíduo. O que faz compreensível o argumento butleriano de que é necessária capacidade crítica para reagir a essas mesmas normas. O que só é alcançável de forma coletiva, ou seja, não serão sujeitos individuais que modificarão a ordem, e sim grupos organizados que busquem articular uma alternativa ao que existe (Butler, 2006: 16). Afinal, só mesmo por meio de uma reflexão teoricamente fundamentada e articulada às demandas dos sujeitos “em desacordo” com as normas é que o queer pode responder à questão: “de que forma o mundo pode ser reorganizado de maneira que melhore este conflito?” (p.18).

Dito isto, vale a pena explorar as razões que levam um conceito tão importante dentro desta proposta política queer a ser descaracterizado de forma a perder até mesmo seu objetivo programático. Tais razões exigem refletir sobre as relações que conceitos inevitavelmente criam com seu local de origem sócio-histórica por meio da(s) metáfora(s) que o exemplificam e o tornam inteligível. A exemplificação da performatividade pela referência à paródia de gênero empreendida pela drag-queen (em Gender Trouble, 1990) foi uma estratégia científica assentada na analogia e na metáfora. Segundo Nancy Leys Stepan, a analogia é parte do pensamento científico, mas não é algo neutro. A analogia cria uma similaridade explicativa e nos induz a ver algo (Stepan, 1994: 85). O risco é compreender a analogia fora de seu caráter metafórico e a tomar como algo real, neutro, como um dado na realidade. Assim, no caso da performatividade, a paródia serve como analogia explicativa do caráter repetitivo que dá materialidade e substância (matéria) às normas de gênero. A repetição cômica das normas as desnaturaliza e as subverte: “Ao imitar o gênero, o drag revela implicitamente a estrutura imitativa do próprio gênero – assim como sua contingência.” (Butler, 2003:196) De qualquer forma, a filósofa nos alerta que nem toda paródia é subversiva e que o contexto é determinante desta possibilidade de subversão, afinal o gênero é “uma identidade tenuemente constituída no tempo” (p.200).

Chegamos a um ponto crucial de nossa argumentação. Seria um conceito inevitavelmente produto de um contexto social e histórico a ponto de sempre carregar distorções ao ser utilizado “fora do lugar”? Pior, seriam tais distorções tão descaracterizadoras a ponto de inviabilizarem seu uso de acordo com seu sentido original? Ou seriam tais desvios evitáveis por meio da adoção de um procedimento a ser descoberto ou, ao menos, sugerido por meio de reflexões como as propostas aqui?

Algo é certo, não se trata de julgar a maneira correta de usar o conceito, pois como afirma de forma muito perspicaz Mieke Bal, o “uso correto” de um conceito sempre encobre o poder de impor tal uso “correto”. O que propomos discutir é a necessidade de avaliar a adequação de um conceito ao objeto sob exame. Em outras palavras, a interação entre analista-conceito-objeto é que deve ser refletida (Bal, 2002:24), e a grande questão é: como usar um conceito? Afinal, “conceitos nunca são simplesmente descritivos; são também programáticos e normativos. Eles tampouco são estáveis; são relacionados a uma tradição, mas seu uso nunca tem uma continuidade simples.” (p.28) A melhor pista que a pensadora holandesa nos dá é a de que o uso adequado de um conceito não deixa margem à projeção do ponto de vista pessoal do analista em seu objeto de pesquisa.

A projeção da visão pessoal de um analista engajado no objetivo de ampliar o leque de identidades oferecidos socialmente, pode levá-lo a tendenciar o uso de um conceito como o de performatividade de forma a confundir conflito com a ordem de gênero vigente com a capacidade individual e consciente do sujeito de modificar a norma. Além deste desvio apontado anteriormente, queremos contribuir para apontar algo que se faz necessário no uso de um conceito: a adequação dele a um contexto social diferente do qual o originou.

Consideramos que a compreensão da metáfora explicativa do conceito e do “espírito” das analogias criadas pelo teórico é mais importante do que pressupõem a maioria dos pesquisadores. Assim, se a drag-queen originalmente serviu de exemplo para o conceito de performatividade é necessário atentar para o caráter paradigmático desta figura na cultura norte-americana e o que a diferencia de outra(s) que teriam este caráter em nosso contexto. Daí apontarmos a travesti como “nosso exemplo” e, a partir dela, propormos uma reflexão sobre como adequar o uso do conceito butleriano “fora do lugar” no qual se originou, mas dentro do mesmo objetivo programático proposto pela filósofa.











Em outro lugar, um sujeito



Quando nos centramos nas travestis para pensar empiricamente as questões conceituais aqui propostas, o que buscamos é justamente dar a dimensão sócio-histórica que julgamos ser condição válida para a teoria e o uso dos conceitos. Em outras palavras, refletir sobre a adequação de um conceito em sua inevitável “viagem” de um contexto a outro implica avaliar se diante de um objeto diverso do que originou a metáfora explicativa o conceito mantém seu caráter explicativo, seu intuito programático e capacidade crítica.

A travesti é uma identidade brasileira (Kulick, 1998), em geral de indivíduos pertencentes às nossas classes populares e que, portanto, comungam de valores morais, éticos e estéticos sobre gênero e sexualidade característicos de uma sociedade pós-escravista em que o binarismo e a dominação masculina são tão arraigados quanto persistentes. Além disso, as intervenções radicais e definitivas que fazem em seus corpos as distancia de outras experiências semelhantes. As travestis, diferentemente das drags-queens não vivem personagens, ainda que, como aquelas, denunciem (mesmo que sem uma intecionalidade) que o gênero é sempre construção e aprendizado. E ainda há, como também observou Kulick, uma grande centralidade da sexualidade como marcadora da experiência travesti. Esforçam-se, assim, na construção de toda uma engenharia erótica (Denizart, 1997), capaz de dar visibilidade a atributos associados ao feminino. Ainda que desestabilizem o binarismo de sexo/gênero, as travestis, paradoxalmente, o reforçam em seus discursos e ações. Porém, é somente pelo paradoxo que elas podem expressar seu conflito com as normas de gênero vigentes. O paradoxo é a condição de sua ação (ou agência).

Foi justamente o paradoxo que chamou nossa atenção durante o convívio com as travestis. Pois, ao mesmo tempo em elas desestabilizam com suas experiências o binarismo de gênero mantêm-se submersas em uma heterossexualidade normalizadora. O que as leva a se reconhecerem como homens, mas que desejam “passar por mulher”. Isso significa mais do que estampar no corpo atributos físicos tidos como legítimos da mulher biológica, mas investir em uma educação corporal e moral que conforma um ethos próprio.

No sistema de gênero construído pelas travestis chama atenção a visão essencialista que elas parecem ter sobre os atributos de gênero. Como observou Kulick (1998), as travestis desenvolvem um “construtivismo essencialista”. Subvertem a própria idéia que comungam de ser o sexo biológico o definidor do gênero. Por outro lado, reforçam o binarismo a partir de um conjunto de preceitos morais que determinam e demarcam o que é ser homem e mulher, respectivamente: ser ativo/passivo; ter força/suavidade; guiar-se pela cabeça/coração. A partir dessa visão, esperam que os “homens de verdade” sejam másculos, ativos, empreendedores, penetradores. Elas não são “homens de verdade”, são “bichas”, “viados”, monas. Tampouco são mulheres, nem o desejam. São “outra coisa”, uma “coisa” difícil de explicar, porque tendo nascidos “homens”, desejam se parecer com mulheres, sem de fato ser uma, isto é: ter um útero e reproduzir.

Ser Jennifer, Fabyanna ou Verônica tendo sido criadas como Erasmo, Anderson ou Clóvis não é, absolutamente, no caso das travestis, construir para si uma personagem, isto é, representar um papel como figura ficcional, mas agir dentro de uma performatividade que não tem relação com atos teatrais que sugerem representações de papéis, senão com discurso que constroem sujeitos dentro de relações de poder. A performatividade travesti, portanto, não pode ser confundida com uma encenação de gênero, mas sim como reiteração e materialização de discursos patologizantes e criminalizantes que fazem com que o senso comum as veja como uma forma extremada de homossexualidade, como pessoas perturbadas. A partir dessa ótica, seu gênero “desordenado” só pode implicar em uma sexualidade perigosamente marginal. Marginalidade que é até mesmo territorial, já que suas vidas são experienciadas, muitas vezes, na rua e durante a noite.

Alocadas pelo discurso hegemônico nessa territorialidade, nas “zonas invisíveis e inabitáveis” onde, segundo Butler (2002: 20), estão os corpos que não “importam”, as travestis balizam as fronteiras da normalidade. Paradoxalmente, é ali também que seus corpos se tornam “materializáveis” e assim disciplináveis.

Interpeladas nas esquinas e ruas pela polícia, por programas públicos de saúde, pelas ONGs e pelos seus normalizados clientes, as travestis conseguem uma certa ordem de existência social, mesmo que diante da reafirmação de seus “desvios” e “inadequações”. São, assim, transferidas “de uma região exterior de seres indiferentes, questionáveis ou impossíveis, ao terreno discursivo do sujeito” (Butler. 2002: 180). O que implica, muitas vezes, numa reiteração das normas de uma heterossexualidade compulsória que as leva a manterem o interminável projeto de construção de seus corpos. Um corpo que parece confundir os códigos de coerência cultural, desordenando-os, mas que de fato está limitado pelos imperativos heteronormativos.

Na tentativa de encontrar um plano de significação e de fuga da abjeção, muitas travestis vão buscar para si uma imagem branca e glamourizada de mulher. Não há um heroísmo desconstrutivista ou denuncista nessas “escolhas”, mas um assujeitamento às normas na expectativa de se fazer coerente. Assim, quando Liza Lawer, Samantha Sheldon, Fernanda Galisteo escolhem seus nomes e sobrenomes, não o fazem de maneira casuística, mas a partir de um referencial no qual raça, classe, gênero se encontram e se combinam. Mulheres glamourosas, sexualizadas, ricas, brancas e loiras orientam essa escolha sintetizada nos nomes.

Em Bodies that Matter, ao analisar o documentário Paris em Chamas, Butler nos apresenta Vênus Xtravaganza, uma travesti que se “faz passar” por uma mulher de pele clara que não chega a ser completamente convincente, nem como mulher, nem como alguém branca. É esse “passar-se por” branca que nos chama especial atenção. Pois, o que as travestis desta pesquisa parecem buscar é o que Butler detectou em Vênus:



uma certa transubstanciação de gênero para poder encontrar um homem imaginário que indicará um privilégio de classe e raça que promete um refúgio permanente contra o racismo, a homofobia e a pobreza (…) O gênero é o veículo dessa transformação fantasmática desse nexo de raça e classe, o lugar de sua articulação. (2002:190-191)



A leitura que Butler nos oferece do travestismo sugere o que ele pode significar para muitos rapazes afeminados nascidos nas classes populares que trazem esse pertencimento marcado na cor da pele, nos traços físicos, nas suas representações simbólicas. Como a personagem real de Paris em Chamas, Samantha Sheldon busca “passar-se por” branca. Identifica-se como loira, de olhos verdes, mesmo que sua tez seja morena, seus cabelos muito ondulados estejam tingidos e que seus traços remetam a uma origem negra. Deseja “passar por mulher” também, com seus seios muito volumosos, suas ancas largas e nádegas de uma protuberância que toca na artificialidade. Ou seja, o efeito “natural” escapa, e assim a autenticidade que faria a personagem crível. A rainha do baile travesti mostrada no filme é uma “mulher” constituída pelos olhares hegemônicos, isto é, brancos e homofóbicos. Para ser mulher e branca, se vale do excesso, sobrepujando a feminilidade das próprias mulheres, confundindo e seduzindo o auditório. Mas é justamente essa representação hiperbólica que a arrasta para a abjeção que deseja superar.

A meta das travestis é a “perfeição”, categoria associada a um outro valor caro a elas: “passar por mulher”. Ambos valores envolvem a capacidade de operarem essa transubstanciação da qual nos fala Butler. O que as enreda numa "transformação sem fim", e assim, numa férrea disciplina corporal e subjetiva, à qual se submetem em busca de seu objetivo de feminilização absoluta. Não seria exagero afirmar que tal objetivo inatingível marca definitivamente suas vidas e as assujeita aos valores que, a olhos menos atentos, parecem aderir de forma subversiva e voluntarista.







Da Metáfora à carne



Judith Butler nos apresenta o conceito de performatividade em seu primeiro trabalho de grande repercussão (Gender Trouble), valendo-se da figura da drag-queen como metáfora/exemplo capaz de denunciar que o gênero não tem uma essência natural e, portanto, pode ser imitado, parodiado, aprendido. O exagero das performances das drags revela, ainda que não seja esse o objetivo delas, que não há uma



identidade original ou primária do gênero. (....) Ao imitar o gênero, o drag revela implicitamente a estrutura imitativa do próprio gênero – assim como sua contingência. Aliás, parte do prazer, da vertigem da performance, está no reconhecimento da contingência radial da relação entre sexo e gênero diante das configurações culturais de unidades causais que normalmente são supostas naturais e necessárias (Butler. 2003: 196).



Ainda que fale do “travestismo” neste mesmo trecho da obra, Butler não o explora como metáfora. A performatividade confunde-se, então, facilmente com performance, não só pelo uso recorrente desse último termo como pela força do exemplo epidérmico e burlesco das drags. Sugerindo a possibilidade autônoma e consciente do sujeito tirar seu gênero do armário, literalmente.

A travesti aparece em seu próximo livro, Bodies that Matter, oferecendo-nos um aprofundamento e um esclarecimento em relação à performatividade e, assim, às propostas teóricas de Butler. No capítulo intitulado “O gênero em chamas: questões de apropriação e subversão”, a teórica queer leva a performatividade para a carne, afirmando que o princípio tácito que move a competitividade nos bailes travestis do Harlem,



É a habilidade para fazer com que a personagem pareça crível para produzir o efeito naturalizado. Este efeito é, em si mesmo, o resultado de uma corporificação de normas, uma reiteração de normas, uma encarnação da norma racial e de classe que é, por sua vez, a figura de um corpo que não é nenhum corpo em particular, e também o ideal morfológico que continua sendo o modelo que regula a atuação, mas a que nenhuma atuação pode aproximar-se. Significativamente, esta é uma representação que surte efeito, que produz o efeito de autenticidade, na medida em que não pode ler-se. Porque a ‘leitura’ significa degradar alguém, expor o que não funciona no nível da aparência, insultar ou ridicularizar alguém.



Chegamos ao ponto em que o corpo, o gênero e a tecnologia se cruzam na produção aqui analisada de Judith Butler. Em Undoing Gender (2004), a experiência de gênero radicalmente corporificada das travestis encontra seu paralelo com as questões dos/das transexuais e dos/das intersex. Pois, estes e estas têm na manutenção ou na transformação, via intervenções tecnológicas, desse corpo pretensamente natural a condição para seu reconhecimento dentro de um espectro ampliado de significações possíveis.

Enquanto o movimento social das pessoas intersex luta para que a intervenção cirúrgica não seja feita em seus corpos quando estes ainda são bebês – mas para que estes sejam entendidos como uma possibilidade da morfologia humana –, os e as transexuais caminham em outra direção, uma vez que buscam a intervenção cirúrgica para se sentirem realmente adequados e adequadas aos seus desejos (desejos estes que se realizam na carne). Adequar-se ou não ao que é lido como corpo humano passa pela idéia mesma de humanidade, de quem serão aqueles contemplados nessa categoria. A luta de diversos movimentos sociais passa, justamente, pela problematização do humano.



Há um certo caminho novo do humano que se dá com o fim de iniciar o processo de refazer o humano. Eu posso sentir que sem certos traços reconhecíveis não posso viver, mas também posso sentir que os termos pelos quais sou reconhecida convertem minha vida em inabitável. Esta é a conjuntura da qual emerge a crítica como um questionamento dos termos que restringem a vida com objetivo de abrir a possibilidade de modos diferentes de vida. (Butler. 2006: 16-17)



O queer busca apontar e compreender os sujeitos em conflito com a ordem de gênero vigente, mas seu compromisso político é o de evidenciar a produção de diferentes identidades não categorizáveis e a necessidade de mudar o repertório existente para que os indivíduos qualificados como menos-humanos, perseguidos, até mesmo assassinados, possam encontrar um mundo habitável e mais acolhedor. Nenhuma “solução” para a ordem de gênero restritiva e violenta pode advir de atitudes heróicas individuais, antes de grupos organizados, movimentos sociais como os de trans e intersex (associados aos mais estabelecidos: feministas, lésbicos e gays). O queer e a Nova Política de Gênero revelam-se, portanto, aparentados.

Por fim, é possível afirmar que o conceito de performatividade deve ser compreendido a partir de normas impostas aos sujeitos e com relação às quais eles podem viver ou entrar em conflito, normas que vêm de fora, mas são internalizadas e literalmente incorporadas. Assim, o conceito de performatividade não fica fora do lugar em outros contextos sociais e históricos, pois todo conceito pode viajar, ser transferido adequadamente a outra sociedade e até, em alguns casos, a outras épocas. Apenas é necessário usar o conceito a partir de seu sentido programático, de seu “espírito” e não a partir de sua equivalência a uma analogia explicativa que só faz sentido em seu local de origem.

Algumas vezes, como é o caso de performatividade, o conceito pode ter sucessivas metáforas-explicativas. Neste caso, Butler partiu da drag-queen em Gender Trouble (1990) para a travesti (latina) em Bodies that Matter (1993) até chegar à possibilidade de associá-lo aos/às trans e intersex em Undoing Gender (2004). Este percurso reitera o aspecto programático de seu conceito assim como nossa proposta de o analisar a partir de uma identidade eminentemente brasileira, a da travesti.







Bibliografia



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DENIZART, Hugo. 1997. Engenharia Erótica – Travestis no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro. Jorge Zahar Editor.



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MISKOLCI, Richard. 2005 Corpos Elétricos: do assujeitamento à estética da existência. Texto apresentado no I Colóquio Corpo e Identidade Social. São Carlos, UFSCar. Será publicado na Revista Estudos Feministas.



Aqui utilizamos a tradução espanhola de 2006.

“más importante que cualquier presuposición sobre la plasticidad de la identidad o incluso sobre su estatus retrógrado, es la oposición de la teoría queer a la legislación no voluntaria de la identidad. (…) Aunque la teoría queer se opone a aquellos que desean regular la identidad y establece premisas epistemológicas prioritarias para quienes reclaman cierto tipo de identidad, no busca tan sólo expandir la comunidad del activismo antihomofóbico, sino más bien insistir en que la sexualidad no se resume fácilmente ni si unifica a través de la categorización (Butler. 2006. 22).

Como pareceristas de revistas científicas sobre gênero e sexualidade, organizadores e participantes de congressos e, sobretudo, em nossa interação com estudantes de graduação e pós, deparamo-nos freqüentemente com estudos que revelam esta recepção parcial e problemática da obra de Judith Butler. Foram estas experiências que nos inspiraram a desenvolver este artigo, o qual, no entanto, constitui apenas uma análise preliminar do fenômeno da recepção brasileira do conceito de performatividade.

Para uma discussão sobre os conceitos de performance e performatividade desde a filosofia da década de 1950, sua expansão para os estudos literários na década de 1980 e para os de gênero na seguinte, consulte o capítulo “Performance and Performativity”, em Bal, 2002, p.174-212. A análise da teórica holandesa enfatiza o papel da memória na possível distinção dos dois conceitos, os quais, no entanto, podem ser associados.

“Um conceito deve ser reconhecido como adequado. Esta adequação não é ‘realista’; não se trata de representação verdadeira. Ao contrário, um conceito é adequado na medida em que ele produz a organização efetiva dos fenômenos do que oferece a mera projeção de idéias e pressuposições de quem o advoga. O ponto de discussão na prática da ciência, é claro, é minimizar o risco de tomar o último – projeção – pelo primeiro – produção. Um certo grau de predominância do ponto de vista da epistemologia é, portanto, inevitável.” (Bal, 2002:31-32)

Usamos o artigo feminino para nos referirmos às travestis não só por uma posição política, mas também para estar mais de acordo com a forma como elas se tratam entre si. Ainda que não haja consenso sobre qual o gênero da palavra travesti, entre elas os artigos, pronomes e substantivos para se auto-referirem ou para tratarem aquelas que lhes são próximas é sempre feminino.

O que não quer dizer que não reconheçamos que existem outras travestilidade, seja de pessoas que desejam se sentir e se mostrarem a partir de signos do gênero que não o que lhes é atribuído, de cross-dressers ou drags-queens (passando por um amplo leque de possibilidades que, se aqui discutidas desviariam o foco deste trabalho).

É assim que Junot, travesti veterana, explica o que é ser mulher: “não é ter uma vagina, não! É ter útero, é dar a vida. Tem uns viados doidos aí que dizem que são como mulheres. Eu pergunto logo: ‘ah é?! Pariu quantos?!’. Pariu no máximo um furúnculo. Que mulher o quê?”.

A partir das discussões de Perlongher (1997), Marco Aurélio Silva propõe que “a territorialidade consiste na distribuição dos corpos no espaço, mas num espaço decodificado, em que determinadas sociabilidades - e não outras - são inscritas, uma distribuição que é tanto populacional quanto semântica ou retórica, num nível discursivo” (Perlongher. 1997:126). Significa dizer que a territorialidade não se limita a um espaço físico, mas sobretudo a um espaço do código, pois é este código que se inscreve num determinado lugar e lhe dá um sentido não apenas descritivo (o que é feito lá) e muito mais prescritivo (o que pode ser feito lá) (Silva. 2006).

A interpelação, segundo Althusser, é sempre um ato unilateral no qual reconhecimento e poder se encontram. O sujeito alcança pela interpelação uma certa ordem de existência ao mesmo tempo em que é assujeitado, performando em seu comportamento a atribuída abjeção.

Algumas travestis são “batizadas” por amigas ou “mães”, isto é, travestis mais velhas que as iniciam na vida de travesti. Quanto ao sobrenome, na maior parte das vezes elas mesmas os escolhem.

Filme realizado em 1991, por Jennie Livingston, sobre bailes travestis ocorridos no Harlem, Nova Iorque e analisado por Butler em seu Body that Matter (utilizamos aqui a tradução espanhola de 2003).

A pesar de considerarmos que há uma travestilidade brasileira que se difere de outras experiências tomadas como “travestismo”, acreditamos que o exemplo de Butler é válido para nossa etnografia, uma vez que o evento documentado em Paris em Chamas e comentado por aquela autora trata de “bailes travestis realizados em Nueva York, en Harlen, [en que] a los que asisten y de los que participan [son] ‘hombres’ que son bien afroamericanos o bien latino” (Butler. 2002: 189), isto é com pertencimentos de classe e origens étnicas que os aproxima grandemente do perfil da travestilidade brasileira.

Butler escreve que “las reglas que legitiman la autenticidad (…) constituyen el mecanismo mediante el cual se elevan insidiosamente como parámetros d autenticidad ciertas fantasías sancionadas, ciertos imaginarios sancionados” (Butler: 2003: 191). A naturalidade, portanto, seria um efeito da incorporação das normas racial, de classe e gênero, numa representação perfeita desses ideais a ponto que o artifício da imitação das normas não consiga ser lido como tal, surtindo seu efeito: a autenticidade, uma vez que o que esta sendo representado a partir de um modelo não se distingue mais do próprio modelo.

20 outubro 2008

Paradas e Passeatas

Foi publicado em O Globo de 19/10, domingo, um artigo do diplomata Alexandre Vidal Porto. Transcrevo-o aqui porque concordo com t-o-d-a-s as colocações do autor e também porque nem todo mundo tem acesso ao texto.
Problemas de copiraite? Comentário, que eu retiro o texto.

Menos parada e mais passeata

A idéia de que o Brasil é um país tolerante com a homossexualidade é falsa. Do ponto de vista legal, milhões de cidadãos brasileiros recebem tratamento discriminatório em virtude de sua orientação sexual. Tal discriminação se manifesta tanto de forma concreta, em leis que ignoram a especificidade individual dos homossexuais, quanto de maneira abstrata, sob a forma de assédio moral, que se apresenta na escola, na família ou no ambiente de trabalho.

A polêmica causada pela propaganda eleitoral da candidata Marta Suplicy, na disputa pela prefeitura de São Paulo, exemplifica bem o tipo de preconceito insidioso que afeta o dia-a-dia dos homossexuais brasileiros e que precisa ser combatido.

A responsabilidade por este combate é matéria de governo e das instituições, mas também pertence aos homossexuais, que detêm o interesse primeiro pela afirmação e proteção de sua individualidade, em todos os seus aspectos.

No Brasil, a proteção aos direitos homossexuais é mínima. Fala-se muito, mas faz-se muito pouco. Enquanto em países latino-americanos e europeus os legisladores há anos debatem e votam sobre a igualdade jurídica dos cidadãos, o Cogresso Brasileiro se recusa a debater a matéria de forma consequente. Inexiste qualquer intrumento legal produzido pela atual legislatura com o fim de reduzir a situação de desigualdade em que se encontram milhões de brasileiros. A escassa proteção jurídica com que podem contar os homossexuais é fruto da ação exclusiva do Judiciário e de políticas públicas levadas a cabo pelo Executivo. O Congresso ignora os homossexuais.

Ao mesmo tempo, a reprodução de estereótipos negativos alimenta a intolerância, Todo homossexual brasileiro já ouviu uma piada que feriu sua dignidade e seus sentimentos. As televisões do país, por exemplo, abandonam o julgamento ético e a responsabilidade social e dão cursos de preconceito ao apresentar homossexuais em seus programas como figuras caricatas, objetos ridículos do humor nacional.

A ridicularização do homossexual à guisa de entretenimento reforça o preconceito e deseduca toda uma geração de crianças e jovens, que aprendem a considerar a homossexualidade ridícula, tratando-a e sentindo-a como tal. As consequências negativas desse comportamento no indivíduo podem ser profundas e trazem prejuízos à sociedade como um todo.

Em São Paulo, como em tantas outras cidades brasileiras, uma vez ao ano, milhões de pesoas participam da Parada Gay. Saem às ruas para celebrar a diversidade e reivindicar direitos iguais para os homossexuais. Tais paradas travestem-se de festa e de evento social, mas não se há de esquecer que sua finalidade é a mesma de uma passeata de trabalhadores lutando por melhores salários. No caso, congrega cidadãos que, coletivamente, reclamam direitos individuais negados e tratamento legal igualitário.

Em todos os outros dias do ano, porém, quando não há parada gay, as demandas homossexuais saem de cena. As milhões de pessoas que, num domingo por ano, saem às ruas em reivindicação por direitos iguais, diluem-se na paisagem das cidades. Tornam-se invisíveis a olho nu.

No entanto, para o indivíduo, a experiência cotidiana de ser brasileiro, homossexual e discriminado continua. É importante que os milhões que marcham e dançam pelas ruas nas inúmeras paradas gay do Brasil continuem marchando sozinhos, em suas vidas privadas, combatendo o preconceito onde ele se materializa: no dia-a-dia. A missão é olhar a sociedade nos olhos, ser reconhecido, celebrar o que é comum na natureza humana e exigir respeito.

Ao contrário do que se possa sugerir, a natureza homossexual não pode ser vista como limitação às possibilidades existenciais ou profissionais de ninguém. A orientação sexual não define nem diminui a existência das pessoas. Não é justo que tenha reflexos no gozo de direitos individuais. Por meio de seu trabalho, nas mais diversas profissões, os homossexuais oferecem contribuição enorme ao desenvolvimento do país. Merecem participar integralmente da sociedade brasileira, em todas as suas dimensões, sem qualquer tipo de limite.



09 outubro 2008

Desvio é danação?

Do Professor Richard Miskolci, " Do Desvio às Diferenças" , um texto informativo, que discute a teoria queer.
Um tanto árido, mas é uma leitura mais do que esclarecedora. IMPERDÍVEL.

13 agosto 2008

Budapeste II



Os banhos turcos são impressionantes, há um que foi construído em 1539 (a data é essa mesmo!). Dizem que rola, mas na verdade o banho é um ritual quase sagrado, não há tanto clima assim para pegação!
A criatura da foto está na praça principal da cidade, a Praça dos Heróis!
Apenas na Hungria, com sua língua impenetrável, pensaria em um herói nacional desmunhecante!

11 agosto 2008

Budapeste



A grande surpresa da viagem!
Com o dinheiro europeu entrando, a cidade está toda em reforma e restauração. Mas nem precisava! É lindíssima, com prédios e parque impressionantes!
Esta foto é do Parlamento, um dos prédios mais bonitos que já vi!
Visite Budapeste,dentro de dois anos será a cidade mais bonita da Europa!

09 agosto 2008

Viena



Posso falar pouco, ficamos por lá apenas um dia e meio, com chuva. Os museus são maravilhosos, o Leopoldo, o Albertina, o Mumok, o Nacional de Belas Artes.
Ver dezenas de Schillers é uma experiência única, o poder de concisão do seu traço é algo inesquecível.
Os parques são maravilhosos!

07 agosto 2008



Praga é linda, mas falta um certa charme!
A igreja de Nossa Senhora da Vitória, onde fica o Menino Jesus de Praga e todos os seus vestidinhos, é muito bonita, mas de tirar mesmo o fôlego são os Jardins de Vrtbosvská, comforme pode-se perceber por esta pequena amostra.
Vida gay? Se há, é pouca e discreta, na revista havia apenas dois bares e mais nada.

Listas

Assumo: eu gosto de listas, relações, estas coisas que nos permitem xeretar o gosto, o chamado arcabouço das outras pessoas. Esta é mais uma, dos 20 melhores discos da história, segundo um critério randômico, como vcs podem ler abaixo. Como toda lista, é para concordar ou não.
A notícia saiu no globo.com, no endereço acima.

Listas dos melhores são sempre polêmicas e nunca agradam a todos. Pois um blog montou uma fórmula (mais ou menos) matemática para tentar definir quais foram os 20 discos mais importantes para o mercado musical norte-americano.

Robert do Y!Radish calculou a sua lista dos 20 melhores álbuns pela seguinte base: valor do poder de durabilidade + cópias vendidas + sucesso entre a crítica + quantidade de prêmios conquistados no Grammy. Quem obtivesse a nota mais alta alcançava posições mais altas no ranking.

Valor do poder de durabilidade, segundo o blog, é quanto o disco ainda vale para a venda nos dias de hoje. Ele dá como exemplo o disco "Rumours", do Fleetwood Mac (19 milhões de cópias vendidas), que no mercado de usados custa mais ou menos US$ 9,50, enquanto "Cracked rear view", do Hootie & The Blowfish (16 milhões de cópias), vale mero US$ 1,38.

Também foram pesquisados as resenhas em diferentes publicações, a quantidade de cópias vendidas nos Estados Unidos e o número de Grammys conquistados (segundo o autor, a parte menos importante da conta). Com cada item calculado por diferentes pesos, Robert do Y!Radish chegou ao seguinte resultado:

20. "Faith", George Michael

19. "Appetite for destruction", Guns 'N Roses

18. "Purple rain", Prince

17. "Houses of the holy", Led Zeppelin

16. "Born in the USA", Bruce Springsteen

15. "Nevermind", Nirvana

14. "Van Halen", Van Halen

13. "Rumours", Fleetwood Mac

12. "The wall", Pink Floyd

11. "The Joshua tree", U2

10. "Metallica - The black album", Metallica

9. "Led Zeppelin", Led Zeppelin

8. "Hotel California", Eagles

7. "The Beatles - The white album", Beatles

6. "Led Zeppelin IV", Led Zeppelin

5. "Abbey road", Beatles

4. "Physical graffiti", Led Zeppelin

3. "Thriller", Michael Jackson

2. "Dark side of the moon", Pink Floyd

1. "Songs in the key of life", Stevie Wonder

21 julho 2008

Praga

Em Praga ha quatro dias e pouca vida gay. Encontramos dois ou tres bares, fomos a um deles, The Saint`s, minimo, para vinte pessoas, se tanto. Mas a cidade e linda, e as pessoas sao muito bonitas, os homens mais do que as mulheres.

Muitos louros, a maioria precisando de um banho, ja que e verao. No Metro, o cheiro de cebolinha verde domina, as vezes de forma insuportavel. O remedio e trocar de vagao.

Praga e uma cidade para passear, milhoes de opcoes, centenas de pontos turisticos que valem a pena ser visitados.

16 julho 2008

Listinha II

Esta é a lista dos visitantes do sítio The Publishing Triangle, que eu comentei há alguns dias. Note-se a presença de O Bom-Crioulo, de Caminha, o que deve querer dizer alguma coisa.

Não sei a razão, mas não são 100.


1. The Front Runner by Patricia Nell Warren
2. The Hours by Michael Cunningham
3. The Charioteer by Mary Renault
4. Like People in History by Felice Picano
5. Annie On My Mind by Nancy Garden
6. A Home at the End of the World by Michael Cunningham
7. Tales of the City by Armistead Maupin
8. The Lost Language of Cranes by David Leavitt
9. Mysterious Skin by Scott Heim
10. The Object of My Affection by Stephen McCauley
11. Faggots by Lary Kramer
12. A Separate Peace by John Knowles
13. Other Women by Lisa Alther
14. Stars in my Pocket Like Grains of Sand by Samuel Delany
15. Six of One by Rita Mae Brown
16. Even Cowgirls Get The Blues by Tom Robbins
17. Martin and John by Dale Peck
18. Querelle by Jean Genet
19. The God in Flight by Laura Argiri
20. Totem Pole by Sanford Friedman
21. Falconer by John Cheever
22. Latin Moon in Manhattan by Jaime Manrique
23. Openly Bob by Bob Smith
24. The Lord Won't Mind by Gordon Merrick
25. The Naked Civil Servant by Quentin Crisp
26. Stone Butch Blues by Leslie Feinberg
27. Quatrefoil by James Barr
28. The Better Angel by Richard Meeker
29. Known Homosexual by Joseph Hanson
30. She's Come Undone by Wally Lamb
31. Burning Houses by Andrew Harvey
32. The American Woman In The Chinese Hat by Carole Maso
33. Nightswimmer by Joseph Olshan
34. Interview with the Vampire by Anne Rice
35. The Beauty of Men by Andrew Holleran
36. The Folded Leaf by William Maxwell
37. The Mysteries of Pittsburgh by Michael Chabon
38. The Catcher in the Rye by J D Salinger
39. The Sea of Light by Jenifer Levin
40. Bending at the Bow by Marion Douglas
41. Amnesty by Louise Blum
42. Hood by Emma Donoghue
43. Queer by William Burroughs
44. Funeral Rites by Jean Genet
45. The Thief's Journal by Jean Genet
46. Forbidden Colors by Yukio Mishima
47. The Grandmothers by Glenway Wescott
48. Scissors, Paper, Rock by Fenton Johnson
49. Just Above My Head by James Baldwin
50. Flesh and Blood by Michael Cunningham
51. Equal Affections by David Leavitt
52. Tim and Pete by James Robert Baker
53. Dance of the Warriors by Kevin Esser
54. Streetboy Dreams by Kevin Esser
55. Livre blanc by Jean Cocteau
56. Confession of Felix Krull by Thomas Mann
57. Pryor Rendering by Gary Reed
58. Winter Birds by Jim Grimsley
59. The Color Purple by Alice Walker
60. Brideshead Revisited by Evelyn Waugh
61. The Price of Salt by Patricia Highsmith
62. Mrs. Stevens Hears the Mermaids Singing by May Sarton
63. Curious Wine by Katherine V. Forrest
64. In a Shallow Grave by James Purdy
65. The Unlit Lamp by Radclyffe Hall
66. Confessions of a Failed Southern Lady by Florence King
67. The Wild Boys by William S. Burroughs
68. Paxton Court by Diane Salvatore
69. Quatrefoil by James Barr
70. The Twyborn Affair by Patrick White
71. Hemlock and After by Angus Wilson
72. Chamber Music by Doris Grumbach
73. Ernesto by Umberto Saba
74. Separate Rooms by Pier Vittorio Tondelli
75. Bertram Cope's Year by H.B. Fuller
76. Bom-Crioulo by Adolfo Caminha
77. Nights in the Underground by Marie Claire Blais
78. The High Cost of Living by Marge Piercy
79. Toilet by Tom Woolley
80. Red Azalea by Anchee Min
81. The Shipping News by Annie Proulx
82. Dream Boy by Jim Grimsley
83. Kissing the Witch by Emma Donohue
84. Biography of Desire by Mary Dorcey
85. Mother of the Grass by Jovette Marchessault
86. Six Chapters of a Floating Life by Shen Fu
87. The Four Winds by Gerd Brantenberg
88. China Mountain Zhang by Maureen McHugh

14 julho 2008

Listinha

O sítio The Publishing Triangle solicitou a um grupo de artistas a listagem dos 100 maiores romances (novels) GLBTXYZ. A lista segue abaixo. Você seria capaz de montar a sua?

De notar-se a discrepância entre a lista dos eleitos e a dos visitantes do sítio: o primeiro lugar dos visitantes, The Front Runner/Patricia Nell-Warren, sequer consta da lista dos eleitos. Mesmo sendo um romance juvenil, teve a importância de ser o primeiro livro com temática gay a ficar no primeiro lugar da lista de best sellers do New York Times - e isto não é pouco!!

Desses todos, quais os publicados no Brasil? Acredito que a maioria dos gays (voltados ao público masculino) e poucos dos lésbicos. Alguma ajuda?

1. Death in Venice by Thomas Mann
2. Giovanni's Room by James Baldwin
3. Our Lady of the Flowers by Jean Genet
4. Remembrance of Things Past by Marcel Proust
5. The Immoralist by Andre Gide
6. Orlando by Virginia Woolf
7. The Well of Loneliness by Radclyffe Hall
8. Kiss of the Spider Woman by Manuel Puig
9. The Memoirs of Hadrian by Marguerite Yourcenar
10. Zami by Audré Lorde
11. The Picture of Dorian Gray by Oscar Wilde
12. Nightwood by Djuna Barnes
13. Billy Budd by Herman Melville
14. A Boy's Own Story by Edmund White
15. Dancer from the Dance by Andrew Holleran
16. Maurice by E. M. Forster
17. The City and the Pillar by Gore Vidal
18. Rubyfruit Jungle by Rita Mae Brown
19. Brideshead Revisited by Evelyn Waugh
20. Confessions of a Mask by Yukio Mishima
21. The Member of the Wedding by Carson McCullers
22. City of Night by John Rechy
23. Myra Breckinridge by Gore Vidal
24. Patience and Sarah by Isabel Miller
25. The Autobiography of Alice B. Toklas by Gertrude Stein
26. Other Voices, Other Rooms by Truman Capote
27. The Bostonians by Henry James
28. Two Serious Ladies by Jane Bowles
29. Bastard Out of Carolina by Dorothy Allison
30. The Heart Is a Lonely Hunter by Carson McCullers
31. Mrs. Dalloway by Virginia Woolf
32. The Persian Boy by Mary Renault
33. A Single Man by Christopher Isherwood
34. The Swimming Pool Library by Alan Hollinghurst
35. Olivia by Dorothy Bussy
36. The Price of Salt (Carol) by Patricia Highsmith
37. Aquamarine by Carol Anshaw
38. Another Country by James Baldwin
39. Chéri by Colette
40. The Turn of the Screw by Henry James
41. The Color Purple by Alice Walker
42. Women in Love by D. H. Lawrence
43. Little Women by Louisa May Alcott
44. The Friendly Young Ladies (The Middle Mist) by Mary Renault
45. Young Törless by Robert Musil
46. Eustace Chisholm and the Works by James Purdy
47. The Story of Harold by Terry Andrews
48. The Gallery by John Horne Burns
49. Sister Gin by June Arnold
50. Ready to Catch Him Should He Fall by Neil Bartlett
51. Father of Frankenstein by Christopher Bram
52. Naked Lunch by William Burroughs
53. The Berlin Stories by Christopher Isherwood
54. The Young and Evil by Charles Henri Ford and Parker Tyler
55. Oranges Are Not the Only Fruit by Jeanette Winterson
56. A Visitation of Spirits by Randall Kenan
57. Three Lives by Gertrude Stein
58. Concerning the Eccentricities of Cardinal Pirelli by Ronald Firbank
59. Rat Bohemia by Sarah Schulman
60. Pale Fire by Vladimir Nabokov
61. The Counterfeiters by André Gide
62. The Passion by Jeanette Winterson
63. Lover by Bertha Harris
64. Moby Dick by Herman Melville
65. La Bastarde by Violette Leduc
66. Death Comes for the Archbishop by Willa Cather
67. To Kill a Mockingbird by Harper Lee
68. The Satyricon by Petronius
69. The Alexandria Quartet by Lawrence Durrell
70. Special Friendships by Roger Peyrefitte
71. The Changelings by Jo Sinclair
72. Paradiso by José Lezama Lima
73. Sheeper by Irving Rosenthal
74. Les Guerilleres by Monique Wittig
75. The Child Manuela (Mädchen in Uniform) by Christa Winsloe
76. An Arrow's Flight by Mark Merlis
77. The Gaudy Image by William Talsman
78. The Exquisite Corpse by Alfred Chester
79. Was by Geoff Ryman
80. Thérese and Isabelle by Violette Leduc
81. Gemini by Michel Tournier
82. The Beautiful Room Is Empty by Edmund White
83. The Children's Crusade by Rebecca Brown
84. The Story of the Night by Colm Toibin
85. The Holy Terrors (Les Enfants Terribles) by Jean Cocteau
86. Hell Has No Limits by José Donoso
87. Riverfinger Women by Elana Nachman (Dykewomon)
88. The Man Who Fell in Love with the Moon by Tom Spanbauer
89. Closer by Dennis Cooper
90. Lost Illusions by Honoré de Balzac
91. Miss Peabody's Inheritance by Elizabeth Jolley
92. René Flesh by Virgilio Piñera
93. Funny Boy by Shyam Selvadurai
94. Wasteland by Jo Sinclair
95. Mrs. Stevens Hears the Mermaids Singing by May Sarton
96. Sea of Tranquillity by Paul Russell
97. Autobiography of a Family Photo by Jacqueline Woodson
98. In Thrall by Jane DeLynn
99. On Strike Against God by Joanna Russ
100. Sita by Kate Millett

A lista dos visitantes será publicada em alguns dias.

12 julho 2008

Arte Erótica




A escultura baseada em um trabalho em quadrinhos foi vendida por 15 milhões de dólares, cerca de 24 milhões de reais, pela famosa casa de leilões Sotheby´s.

A escultura intitulada "My Lonesome Cowboy" (Meu cowboy solitário) é do artista japonês Takashi Murakami, que se especializou em apropriar-se de temas da cultura popular como o mangá e transformá-los, como o que ele realizou no trabalho acima.

A obra estava exposta no Brooklyn Museum of Art, em Nova Iorque.

Bethany & Rufus




900 Miles!!!Taí um disco maravilhoso!

Bethany, vocal, e Rufus Capadocia, cello, fizeram disco lindo, que às vezes lembra Nina Simone, Cowboy Junkies, Tuck&Patty, mas tem um som único. Na Amazon tem!

08 julho 2008

Museu de Arte Erótica


Um museu cheio de informações, com um sítio ótimo para navegar! Aproveite!

Curta-Metragem

No curta-metragem "Depois de Tudo", do cineasta Rafael Saar, o cantor Ney Matogrosso e o ator Nildo Parente vivem um casal gay. O filme, ainda em fase de finalização, é uma co-produção do Cinema Nosso com a Universidade Federal Fluminense.

Como afirmou Rafael Saar para o MixBrasil, a temática do amor entre iguais na terceira idade é muito pouco, ou quase nada, explorada pelas produções atuais, "motivo pelo qual Ney aceitou o convite; justamente porque ele nunca viu nada parecido", disse. "Meu filme explora um tabu", completou.

Será que teremos oportunidade de vê-lo sem ser em eventos especialíssimos, fechados, ou em festivais super-concorridos, com ingressos limitados?

04 julho 2008

Dusty!Dusty!!

Dusty Springfield, ah! Nestes tempos de várias clones (Duffy, Adele etc), nada como a original, produzida pelos Pet Shop Boys, idos dos 80s. Para se divertir!

Barack e a Aids

A declaração do então senador:

“We can’t ignore the fact that abstinence and fidelity, although the
ideal, may not always be the reality — that we’re dealing with flesh
and blood men and women and not abstractions, and that if condoms and,
potentially, things like microbicides, can prevent millions of deaths,
then they should be made more widely available. Let me say this loud
and clear: I don’t think that we can deny that there is a moral and
spiritual component to prevention, that in too many places all over the
world where HIV/AIDS is prevalent — including, by the way, right here
in the United States — the relationship between men and women, between
sexuality and spirituality, has broken down, and needs to be repaired.”


–U.S. Senator Barack Obama, speaking to a California evangelical group.

Comentários???



03 julho 2008

Má Notícia

HIV resurges in men who have sex with men










“As autoridades de saúde dos EUA dizem que uma nova análise dos diagnósticos entre homens que fazem sexo com homens aponta para um preocupante aumento dos casos de AIDS entre homens jovens.

As autoridades de saúde usam o termo "homens que fazem sexo com homens" (MSM) porque muitos desses homens não são estritamente homossexuais ou até mesmo bissexuais.

Entre 2001 e 2006 sexo entre homens era a maior categoria de transmissão do HIV nos EUA, e a única associada a um número crescente de casos de HIV/AIDS, de acordo com o CDCP - Center for
Disease Control and Prevention.


E as festas continuam, e as campanhas cessaram....

01 julho 2008

Pier Paolo Pasolini



Em tradução para o inglês de James Kirkup (não consegui o original), o poema abaixo foi escrito em 1958 quando o Papa Pio XII morreu, e causou um rebuliço enorme e um escândalo literário. Julgue por você mesmo!

No quadro de Bacon, o papa é outro, mas muda alguma coisa?

To a Pope

A few days before you died, death
cast her eye on one of your own age:
at twenty, you were a student, he a working lad,
you noble and rich, he a plebeian son of toil:
but those days you lived together illumined with a flame
of gold our ancient Roma, restoring her to youth again.
-I've just seen his corpse, poor old Zuchetto's.
Drunk, he was roaming the dark streets round the markets
and a tram coming from San Paolo ran him down,
dragging him along the rails under the plane trees:
they left him there for hours, beneath the wheels:
a few curious passers-by were standing staring at him
in silence: it was late, not many people in the streets.
One of those men who owe you their existence,
an old cop, in a sloppy uniform, libe any layabout,
kept shouting at those who went too close: "Fuck off!"
Then at last the hospital van arrived to carry him away:
the idlers began dispersing, but a few still hung around,
and the proprietress of a nearby all-night snack bar
who knew him well, told someone who'd just come by
Zuchetto had been run over by a tram, it was all over now.
You died a few days later: Zuchetto was one
of your vast apostolic human flock,
a poor old soak, no family, no home,
who roamed the streets at night, living as best he could.
You knew nothing of all that: knew nothing either
of thousands of others christs like him.
Perhaps we're crazy to keep on asking why
people like Zuchetto were unworthy of your love.
There are unspeakable hovels, where mothers and children
go on existing in the dust andf filthof a past long gone.
Not too far from where you lived yourself,
within sight of the vanglorious dome of St. Peter's
there is one of those places, il Gelsomino...
a hill half ravaged by a quarry, and down below,
between a stagnant sewer and a row of mansions blocks,
a mass of wretched shacks, not houses - pigsties.
All it needed from you was a gesture, a single word,
for all your children living there to find a decent roof:
you made no gesture, you spoke not a single word.
No one was asking you to give Marx absolution! An immense
wave, beating against thousands of years of life,
separated you from him, from his beliefs:
but does your own religion know nothing of pity?
Thousands of men under your pontificate
lived on dunghills, in pigsties, under your very eyes.
You knew that to sin does not just mean to commit evil deeds:
not to do good - that is the real infamy.
What good you might have done! And you did not:
there has been no greater sinner than yourself!!

24 junho 2008

Melody Gardot II



Para quem não se maravilhou o suficiente com a postagem abaixo!

Melody Gardot



Podem não acreditar: uma mistura de Blossom Dearie com Julie Andrews, é de cortar os pulsos!!!!!!!

"Love me like the river does...deeply!"

Gravou dois ou três Cds e também fez parte do disco do Herbie Hancock em homenagem à Joni Mitchell. Vejam no vídeo a diferença da reação do público. A entrada merece duas ou três palmas e o final é apoteótico!!!

No youtube tem muito mais!!!!

21 junho 2008

Antony and the Johnsons




"My heart is broken
here in the cup of my hands
from between cracked fingers
old blood spills.
I had to move onbaby
for when I tasted my own tears
they were too sweet
and then I knew that I had come too close

And I have tried to shine in the darkness..."

e por aí vai....

18 junho 2008

Biologia

Reportagem de ontem (17/06) em O Globo (não consigo o link!!) traz pesquisa sobre a confirmação biológica do caráter genético da homossexualidade. E agora, homens das trevas?
Antes dos argumentos de sempre: não é uma anomalia, é apenas um comportamento das sinapses cerebrais. Repito a pergunta:

e agora???

16 junho 2008

Japão Gay

(Reportagem de Ewerthon Tobace, no sítio G1)

Andar de mãos dadas? Nem pensar! Beijar em público então... No Japão, nem casais heteros têm coragem de demonstrar o carinho à vista dos outros, e se mostram recebem olhares de desaprovação. Que dirá de um casal gay. Então, apesar de algumas cidades serem o que chamam de 'gay friendly', expor a sexualidade só mesmo dentro de quatro paredes.

Já o mercado de compras e diversões para os gays é visto a olho nu, principalmente em Tóquio. E é um mercado rico, onde se gasta muito.

Os japoneses, no geral, adoram usar roupas da moda, se preocupam com o corpo, com a alimentação, usam produtos de beleza, adoram a cor rosa, carregam bolsa a tiracolo e não se incomodam de prender as longas madeixas com presilhas ou tiaras. Agora, imagine um japonês gay.

Pois é. A indústria voltada a esse mercado não é boba nem nada e hoje fatura horrores com produtos e serviços exclusivos para os gays japoneses. Há de tudo que se possa imaginar somente na capital: salões de beleza, spas, lojas de roupas, de acessórios e, é claro, a indústria pornográfica. Essa sim, a que mais fatura.

Há empresas especializadas em satisfazer o fetiche do cliente (e convenhamos, os japoneses são os reis das fantasias eróticas): há filmes somente com meninos colegiais, com surfistas, gordinhos, musculosos, personagens de animê, samurais etc.


Na vida real, os bares e casas noturnas também não ficam no conservadorismo. Há casas especializadas em todo tipo de cliente: os que têm tara por homens de terno e gravata, por cuecas brancas (o cliente tira a roupa na entrada do bar e, se não tiver com a peça em questão, a casa trata de emprestar uma), por sadomasoquismo, estrangeiros, jovens, velhos e tudo o mais que a imaginação permitir.


Vida gay em Tóquio

Na capital, há três bairros que concentram o comércio gay. Shinjuku Nichome (leia-se nityome) é o mais famoso. Próximo aos 300 metros da rua Naka encontram-se cerca de 480 estabelecimentos como bares, clubes e sex shops. O movimento é diário, mas o pico, claro, é nos finais de semana.


Os outros bairros são Shimbashi, antigo distrito de gueishas e preferido hoje dos assalariados japoneses de meia idade, e Ueno. Neste último, além de bares voltados para o público urso e da terceira idade, é lá que está a maior sauna do Japão, a 24 Kaikan (há uma filial da casa em Shinjuku também).

Comunidade gay brasileira

Os brasileiros gays usufruem de tudo isso e alguns aproveitam para ganhar dinheiro também. “A mais famosa drag queen do Japão era uma brasileira, sem contar os go-go-boys”, conta Juvenal Shintaku, que era freqüentador regular das melhores baladas da capital. “Outro dia fui a uma festa gay e pelo menos 50% do público era brasileiro, talvez porque a DJ era uma brasileira”, fala.

Fora da capital, o agito acontece em cidades com grande concentração de brasileiros. Hamamatsu, na província de Shizuoka, e Nagoya, em Aichi, são sempre palco de festas para o público gay. Sérgio Murata, de 43 anos, de Toyota, é um dos que promove os eventos em Aichi. Há alguns meses ele passou a investir também no público gay e, periodicamente, é o arco-íris que enfeita os convites e a casa. “No começo pensávamos que não iria ter público, mas cada evento chega a receber até 300 pessoas”, finaliza ele.

Nota: Para quem quiser saber sobre a formação do pensamento gay no Japão, recomendo a leitura de Male Colors - The Construction of Homosexuality in Tokugawa Japan, de Gary P. Leupp.

15 junho 2008

Avanço

Casamento gay atrairá milhões de dólares à Califórnia

Los Angeles (EUA)- Milhares de casais de homossexuais poderão, a partir de amanhã, se casar na Califórnia, um gesto aprovado pela Justiça e que trará milhões de dólares para os cofres da combalida economia deste estado americano.

Em 15 de maio, a Corte Suprema da Califórnia declarou inconstitucionais as leis que proibiam casamentos entre pessoas do mesmo sexo no estado, que se transformou no segundo dos Estados Unidos a permitir esses matrimônios, após Massachusetts.

A sentença judicial deu razão à ação apresentada pela cidade de San Francisco e pelos coletivos de homossexuais que, desde 2004, lutavam nos tribunais pelo reconhecimento de seu direito a se casar.

Um capítulo que terminará, pelo menos por enquanto, no último minuto de segunda-feira e de forma em massa a partir de terça-feira de manhã, quando espera-se que vários casais de homossexuais vão aos cartórios para mudar seu status de solteiro a casado.

Além de suas conotações legais, os enlaces gays terão grandes conseqüências econômicas para um estado afetado pela dívida e onde seus cidadãos se mostram divididos frente a esta mudança social.

Segundo um estudo do Instituto Williams da Escola de Direito da Universidade da Califórnia de Los Angeles (UCLA), os casamentos entre pessoas do mesmo sexo gerarão um volume de negócio de mais de US$ 680 milhões nos próximos três anos neste estado.

Entre os principais beneficiados da medida estará a Administração Pública, que receberá até 2011 mais de US$ 60 milhões graças aos enlaces, que criarão, de forma indireta, cerca de 2.200 empregos.

Os números acabaram por atenuar a recusa do governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger, que vetou em várias ocasiões propostas legislativas favoráveis aos matrimônios entre homossexuais.

Calcula-se que 70 mil pares de homossexuais irão a este estado nos próximos três anos para se casar, um número ao qual se somarão 50 mil casais gays que moram na Califórnia.

O relatório do Instituto Williams estimou que se fossem autorizados os casamentos entre pessoas do mesmo sexo em todo o território americano, a caixa do Governo Federal obteria US$ 1 bilhão extras anuais.

No entanto, a medida do Supremo Tribunal colocou em pé de guerra os cidadãos e grupos conservadores de caráter religioso, que começaram a coletar assinaturas para apoiar uma iniciativa que pretende modificar a Constituição da Califórnia e declarar inconstitucional o casamento entre pessoas do mesmo sexo.

Se obtiver o respaldo social suficiente, a proposta seria submetida à votação em 4 de novembro, coincidindo com as eleições presidenciais nos Estados Unidos.

As últimas pesquisas, no entanto, mostraram uma mudança na opinião pública californiana que, pela primeira vez em três décadas, se posicionou a favor das uniões entre homossexuais, mas não de forma unânime.

A pesquisa publicada no final de maio pelo instituto Field Poll indicou que 51% dos eleitores aprovam esses casamentos, contra 42% que se opõem.

Em meio a este debate, rostos famosos do mundo do cinema e da televisão nos EUA tornaram pública sua intenção de se casar com seus parceiros, como a apresentadora Ellen Degeneres ou o ator George Takei da série "Jornada nas Estrelas".

(veja mais em http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL602024-5602,00-CALIFORNIA+SE+PREPARA+PARA+CELEBRAR+CASAMENTOS+GAYS.html

13 junho 2008

Mistérios de Pittsburg




Os livros do M. Chabon são super-roteirizáveis! "Garotos incríveis" deu um filme quase tão bom quanto o livro! "As aventuras de Clay e Kavalier", prometido, não sei que fim levou, embora o imbd diga que vai ser lançado em 2009.E "Mistérios de Pittsburg" foi mal recebido no Sundance. Será sina?

12 junho 2008

Atraso

A notícia abaixo, reproduzida da revista The Advocate, mostra como vamos nos colocando, a cada dia, mais distantes dos países civilizados. A barbárie é triste, gente alegre...

Norway Becomes Sixth Country to Permit Gay Marriage

Members of Norway's parliament approved a bill Wednesday that will allow same-sex couples to wed in civil marriages, according to Agence France-Presse.

The new law, which passed 84–41, requires that the terminology in marriage documents be gender-neutral.

A 1993 law gave gay and lesbian couples the right to enter into civil unions, similar to marriage, but they could not be wed in church or adopt children. The new law allows adoption and permits lesbians to be artificially inseminated.

Norway becomes the sixth country to allow gay marriage, joining Spain, Belgium, the Netherlands, South Africa, and Canada in legislating full marriage equality.

(The Advocate)

11 junho 2008

Carta de Brasília

A I Conferência Nacional em Brasília produziu o documento abaixo em seu encerramento.
Espero que os erros de português sejam fruto da transcrição para o sítio de onde copiei o texto. Afinal, quem pretende ser guardião dos direitos de quase 20 milhões de pessoas deveria ter a preocupação de, pelo menos, comunicar-se corretamente com seus protegées.

Infelizmente, é mais um esforço que se perde na partidarização e compartimentabilização da luta pelos direitos. Mais uma vez, insisto: todos nascemos cidadãos, a cidadania é inerente ao ser humano. O que é preciso é luta para que os mecanismos sociais não desviem o processo de pleno gozo dos direitos de cada um.

A falta de um foco possível, de um trabalho de base, é clara. A diluição do discurso em aspectos históricos e globais é mais um artifício para encobrir a falta de propostas sérias e definidas para o universo GBLT.

Em tempo: não faço parte de grupos devido à partidarização e aparelhamento das entidades com maior alcance na mídia.Falta a essa gente joie de vivre, leitura e uma visão menos maniqueísta (hum....)da situação.

É isso, a montanha pariu um rato...

Carta de Brasília

Nós delegadas e delegados, participantes da Conferencia Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), reunidos em Brasília, entre os dias 5 e 8 de junho de 2008, com o intuito de avaliar e propor estratégias de promoção da cidadania e de combate à violência e a discriminação contra a população LGBT, manifestamos nossa esperança e confiança de conquistarmos um Brasil e um mundo sem nenhum tipo de preconceito e segregação;

Consideramos que o processo de mobilização social e a consolidação de políticas públicas em todas as esferas do Estado são fatores determinantes para a construção de uma sociedade plenamente democrática, justa, libertária e inclusiva;

Para tanto, assumimos o compromisso de nos empenharmos cada vez mais na luta pela erradicação da homofobia, transfobia, lesbofobia, machismo e racismo do cotidiano de nossas instituições e sociedade, e por um Estado laico de fato;

A humanidade conhece os horrores causados pelas diferentes formas e manifestações de intolerância, preconceito e discriminações praticadas contra idosos, crianças, pessoas com deficiência, bem como por motivações de gênero, raça, etnia, religião, orientação sexual e identidade de gênero;

Contra o segmento LGBT tem recaído, durante séculos, uma das maiores cargas de preconceito e discriminações. Na idade média foram queimados em fogueiras. Durante o reino da barbárie nazista foram marcados com o triangulo rosa e assassinados em campos de concentração e fornos crematórios, juntamente com Judeus, Ciganos e Testemunhas de Jeová. Também nos países ditos do “socialismo real”, lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais foram vitimas de discriminações, preconceito, e condenações, o que mostra que a intolerância e a discriminação extrapolam as barreiras ideológicas e os regimes políticos;

Assim, como os preconceitos foram gerados e alimentados por determinadas condições históricas, é chegado o momento de introduzir no âmago dos valores essenciais da sociedade: a consciência, o respeito e o reconhecimento da dignidade da pessoa humana, em sua absoluta integridade, em superação a comportamentos, atitudes e ações impeditivas ao avanço de conquistas civilizatórias, as quais dedicamos nossos melhores esforços;

No mundo de hoje ainda existem países onde uma pessoa pode ser presa, condenada e morta por sua orientação sexual e identidade de gênero. A ONU reconhece a condição de refugiado político às pessoas que estejam ameaçadas em sua segurança ou integridade em virtude de sua raça, religião, nacionalidade, opinião política ou identificação a certos grupos sociais – onde se incide a orientação sexual e a identidade de gênero, quando expostas a situações de ameaça, discriminação ou violência – circunstâncias características de grave violação de direitos humanos;

Cumpre ao Poder Público (Executivo, Legislativo e Judiciário), o dever do diálogo, entre seus órgãos, e com a sociedade civil, com vistas à convalidação de direitos e à promoção da cidadania LGBT; seja pela ampliação, transversalidade e capilaridade de políticas públicas; pelo aprimoramento legislativo e pelo avanço jurisprudencial que reconheça, no ordenamento constitucional, a legitimidade de direitos e garantias legais reivindicadas pelo público LGBT em suas especificidades;

Nem menos, nem mais: direitos iguais!

É oportuno que o governo brasileiro busque apoio na comunidade internacional para a retomada, junto ao conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), das discussões para a aprovação de uma nova resolução dedicada aos Direitos Humanos e a Orientação Sexual e Identidade de Gênero, a exemplo da Resolução já aprovada na OEA, também apresentada pelo Brasil.

A prática afetivo-sexual consentida entre pessoas do mesmo sexo integra os direitos fundamentais à privacidade e à liberdade. Por isso, o avanço da cidadania LGBT requer o reconhecimento das relações homoafetivas como geradora de direitos, sem discriminação quanto àqueles observados nos vínculos heterossexuais;

Repudiamos toda e qualquer associação entre a promoção de direitos da população LGBT com a criminosa prática da pedofilia e da violência sexual presente na sociedade brasileira, que devem ser tratadas, rigorosamente na forma de lei;

Consideramos que a luta pelo direito à livre orientação sexual e identidade de gênero constitui legítima reivindicação para o avanço dos direitos humanos em nossa sociedade e para o aprimoramento do Estado Democrático de Direito;

Para tanto, solicitamos urgência na criação do Plano Nacional de Direitos Humanos e Cidadania LGBT; o cumprimento dos objetivos do Programa Brasil sem Homofobia e a aprovação dos projetos de lei que criminaliza a homofobia; que reconhece a união civil de pessoas do mesmo sexo e que autoriza a mudança do nome civil das travestis e transexuais pelo seu nome social;

Por isso, nós, participantes da Conferência Nacional de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais reivindicamos ao Poder Público (nos três níveis) que se aprofunde esforços, reflexões e ações em prol da consolidação de direitos de toda a comunidade LGBT, a fim de que as futuras gerações possam viver num mundo onde toda modalidade de preconceito e discriminação, motivadas por questões raciais, religiosas, políticas e de orientação sexual e identidade de gênero, estejam definitivamente suprimida do convívio humano.


Brasília 08 de junho de 2008

08 junho 2008

Foco

Matéria reproduzida de O Globo e que mostra os objetivos fundamentais da I Conferência em Brasília.

Movimento GLBT decide mudar para LGBT

Para o grupo, a mudança significa dar maior destaque para reivindicações das lésbicas.

A 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais decidiu neste sábado (7) padronizar a nomenclatura usada pelos movimentos sociais e pelo governo, junto com o padrão usado no resto do mundo: em lugar de GLBT, a sigla passa a ser LGBT: Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transsexuais. Para o grupo, a mudança significa dar maior destaque para as reivindicações das mulheres lésbicas.

“Também coloca a questão da mulher lésbica como protagonista desse processo, prioriza e dá maior visibilidade à questão das lésbicas. Isso é importante. Era uma demanda antiga do movimento das lésbicas organizadas”, explica o presidente da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis.

Além da plenária, o sábado foi de atividades nos grupos de trabalho por setor, que votaram todas as propostas que devem ser incluídas na Carta de Brasília. O documento vai ser discutido na plenária final neste domingo (8).

Reis explica que o documento final serve “para que todo mundo possa ler e discutir cada proposta e termos o Plano Nacional de Políticas Públicas, que é o nosso grande objetivo, e aí constituir o Conselho Nacional de Políticas Públicas para LGBT, para que possa fazer o controle social das políticas”.

A criminalização da homofobia e a legalização da união estável entre pessoas do mesmo sexo devem ser as duas principais reivindicações do movimento apresentadas na Carta de Brasília.

“Nós temos duas prioridades: a aprovação do projeto de lei que criminaliza a homofobia, que é o PLC 122/06, e um outro é o projeto da ex-deputada Marta Suplicy, da união civil. Este projeto está parado na Câmara desde 1995, já está pronto para a ordem do dia, mas infelizmente a gente não consegue fazer com que ele avance”, afirmou o coordenador-executivo do projeto Aliadas e membro do Grupo Dignidade de Curitiba, Igo Martini.

07 junho 2008

Mudança de sexo gratuita

Reproduzo abaixo a matéria publicada no globo.com. Seria legal, junta com a mudança de sexo, vir um pouco mais de respeito pelos direitos de cada um (herança, pensão, plano de saúde, parceria civil, combate à homofobia, educação nas escolas, assistência ao adolescente homossexual e um tenebroso etc).


O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, anunciou nesta quinta-feira (5) que até o fim do mês o ministério vai baixar uma portaria estabelecendo que cirurgias para mudança de sexo possam ser feitas gratuitamente em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS).

Segundo ele, o governo está fazendo os últimos ajustes na portaria, que entrará em vigor assim que for publicada no Diário Oficial da União (DOU) - o que ainda não tem data certa para acontecer.

"É uma demanda social que está na nossa agenda há mais de 20 anos. Vai ser mais um passo na consolidação desse caminho em que o Brasil é liderança mundial.

O ministro conversou com a imprensa ao chegar à 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT), em Brasília.

Segundo Temporão, a intenção do governo é que, inicialmente, hospitais universitários do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais possam realizar o procedimento. O ministro explicou que, a partir da portaria, outros hospitais da rede pública poderão se credenciar para que o Ministério da Saúde possa verificar se eles estão aptos a fazer a cirurgia.

"O Ministério da Saúde tomará todos os cuidados do ponto de vista ético, e do ponto de vista médico", garantiu Temporão.

A conferência é um marco na história do país. O evento ocorrerá até o dia 8 de junho, e contará com palestras sobre direitos humanos e políticas públicas, orientação sexual e identidade de gênero.

Ao final do encontro, políticas públicas discutidas serão consolidadas no Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais.

06 junho 2008

1ª Conferência - IV

Ainda em "Dúvidas Frequentes", pode-se ler:

Quais são os conceitos usados para esta Conferência? (Os conceitos foram formulados em consenso pela Comissão Organizadora do evento)

Bissexual: pessoa que têm desejos e práticas sexuais e relacionamento afetivo-sexual com homens e mulheres.

Gay: pessoa do gênero masculino que tem desejos, práticas sexuais e relacionamento afetivo-sexual com outras pessoas do gênero masculino.

Gênero: o conjunto de normas, valores, costumes e práticas através das quais a diferença entre homens e mulheres é culturalmente significada e hierarquizada. Envolve todas as formas de construção social das diferenças entre masculinidade e feminilidade, conferindo sentido e inteligibilidade social às diferenças anatômicas, comportamentais e estéticas. Contemporaneamente se compreende que não há linearidade na determinação do sexo sobre o gênero e sobre o desejo, sendo o gênero uma construção individual, social e cultural que sustenta a apresentação social da masculinidade e/ou feminilidade por um indivíduo.

GLBT: É a sigla para Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais. Heterossexual: pessoa que tem desejos, práticas sexuais e relacionamento afetivo-sexual com pessoas do gênero oposto.

Homofobia: conseqüência direta da hierarquização das sexualidades e do status superior arbitrariamente conferido à heterossexualidade, suposta como natural, em detrimento de outras manifestações e expressões das identidades e das práticas sexuais, tidas como inferiores ou mesmo anormais. A homofobia é um fenômeno que costuma produzir ou se vincular a preconceitos e mecanismos de discriminação, de estigmatização e violência contra pessoas GLBT e, mais genericamente, contra todas as pessoas (inclusive as heterossexuais) cujas expressões de masculinidade e feminilidade não se enquadrem nas normas de gênero, culturalmente estabelecidas. A homofobia, portanto, vai além do grave quadro de hostilidade e violência contra GLBT. Ela desencadeia e realimenta processos discriminatórios, representações estigmatizantes, processos de exclusão, dentre outros, voltados contra tudo aquilo que remeta, direta ou indiretamente, às práticas sexuais e identidades de gênero discordantes do padrão heterossexual e dos papéis estereotipados de gênero.

Homossexual: pessoa que tem desejos e práticas sexuais e relacionamento afetivo-sexual com pessoas do seu mesmo gênero.

Lésbica: pessoa do gênero feminino que têm desejos e práticas sexuais, e relacionamento afetivo-sexual com outras pessoas do gênero feminino.

Lesbofobia: é uma expressão específica da homofobia. Se refere à discriminação, estigmatização e violação de direitos de mulheres que tem uma orientação sexual homossexual.

Sexualidade: dimensão fundamental da experiência humana, pode ser compreendida à luz de diferentes perspectivas. A sexualidade tem uma faceta biológica, mas não se reduz a ela. Aspectos psicológicos, sociais e culturais fundamentam a vivência humana da sexualidade. A sexualidade não é sinônimo de coito, sendo uma disposição à experimentar a si mesmo e ao outro segundo o registro do prazer e da criação. Sexualidade é disposição que motiva o contato e a intimidade e se expressa na forma de sentir, de ser de se relacionar. Sexualidade, portanto, refere-se a uma importante dimensão da experiência humana que está diretamente relacionada ao laço social.

Transexual: pessoa com identidade de gênero diferente do biológico. Esta afirmativa consolidada pode, eventualmente, se transformar em desconforto ou estranheza diante destes atributos, a partir de condições sócio-culturais adversas ao pleno exercício da vivência dessa identidade de gênero constituída. Isto pode se refletir na experiência cotidiana de auto-identificação ao gênero feminino – no caso das mulheres que vivenciam a transexualidade, que apresentam órgãos genitais masculinos no momento em que nascem –, e ao gênero masculino que apresentam órgãos genitais femininos. A transexualidade também pode, eventualmente, contribuir para o indivíduo que a vivencia objetivar alterar cirurgicamente seus atributos físicos (inclusive genitais) de nascença para que os mesmos possam ter correspondência estética e funcional à vivência psico-emocional da sua identidade de gênero constituída.

Transfobia: é outra expressão específica da homofobia, referente ao rechaço às pessoas travestis e transexuais. A transfobia se expressa por meio do não reconhecimento das vivências de identidade de gênero distintas dos ditames postos pelas normas de gênero e pela ideologia do binarismo sexual. Ao superarem as barreiras postas pelas normas de gênero e uma visão essencialista acerca dos corpos, dos sexos e dos gêneros, as pessoas travestis e transexuais são expostas a um duro quadro de vulneralibilidades, que fazem delas alvo das mais acirradas manifestações de desaprovação e repulsa social. A transfobia as exclui de praticamente todos os espaços de convivência cidadã e, ao mesmo tempo, as coloca entre os principais alvos da violência letal contra GLBT.

Travesti
: pessoa que nasce do sexo masculino ou feminino, mas que tem sua identidade de gênero oposta ao seu sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes daquele imposto pela sociedade. Muitas travestis modificam seus corpos através de hormonioterapias, aplicações de silicone e ou cirurgias plásticas, porém vale ressaltar que isso não é regra para todas.

Vulnerabilidade: refere-se à condição pessoal ou social que expõe os indivíduos e/ou grupos sociais a situações de exclusão e violação dos direitos humanos fundamentais. O gênero, a cor, condição sócioeconômica, de região, de religião, de idade, de orientação sexual e de identidade de gênero, por exemplo, são condicionantes e determinantes para o prejuízo no gozo dos direitos, estando os indivíduos vulneráveis aos processos discriminatórios devido a estigmas e preconceitos sócio-historicamente constituídos.

AH! Meus Deus!!

1ª Conferência - III

Lê-se no sítio da conferência, na página "Dúvidas frequentes(???)":

Como é composta a comissão organizadora?

A Comissão Organizadora Nacional foi designada pelo Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República através da Portaria nº 260 de 21 de dezembro de 2007 e é composta por:

* I – 3 (três) representantes titulares e 3 suplentes da Secretaria Especial dos Direitos Humanos/PR;
* II – 1 representante titular e 1 suplente dos seguintes órgãos:
*
o a) Secretaria Geral da Presidência da República;
o b) Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres;
o c) Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial;
o d) Ministério da Educação;
o e) Ministério da Saúde;
o f) Ministério do Trabalho;
o g) Ministério da Justiça;
o h) Ministério da Cultura;
o i) Ministério dos Esportes;
o j) Ministério das Cidades;
o k) Ministério da Previdência Social;
o l) Ministério do Desenvolvimento Social;
o m) Ministério das Relações Exteriores;
o n) Ministério do Turismo;
* III – 1 representante titular e 1 suplente da Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT;
* IV – 7 representantes titulares e 7 suplentes da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais – ABGLT;
* V – 2 representantes titulares e 2 suplentes da Associação Nacional de Travestis e Transexuais – ANTRA;
* VI – 2 representantes titulares e 2 suplentes do Coletivo Nacional de Transexuais – CNT;
* VII – 2 representantes titulares e 2 suplentes da Articulação Brasileira de Lésbicas - ABL;
* VIII – 1 representante titular e 1 suplente da Rede Afro GLBT;
* IX – 2 representantes titulares e 2 suplentes da Liga Brasileira de Lésbicas - LBL;
* X – 1 representante titular e 1 suplente da Associação Brasileira de Gays – ABRAGAY;
* XI – 1 representante titular e 1 suplente do Grupo E-Jovem

Tal mixórdia poderá gerar algo produtivo? Esperemos...