16 dezembro 2007

Conferência Nacional

O Presidente Lula assinou em 28 de novembro um decreto inédito convocando a realização da 1ª Conferência Nacional de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (GLBT).

Com a temática “Direitos Humanos e Políticas Públicas: O caminho para garantir a cidadania de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais”, a Conferência Nacional será realizada em Brasília de 9 a 11 de maio de 2008, com 60% de participação da sociedade civil e 40% participação do governo.

O objetivo da Conferência é propor as diretrizes para a implementação de políticas públicas e o plano nacional de promoção da cidadania e direitos humanos de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais, bem como avaliar e propor estratégias para fortalecer o Programa Brasil Sem Homofobia.

Antes da Conferência Nacional, conferências serão realizadas em todos os estados brasileiros a fim de desenvolver propostas iniciais e eleger os(as) delegados(as) que participarão da Conferência Nacional.

Uma Comissão Organizadora abrangente composta por 16 ministérios, a Frente Parlamentar pela Cidadania GLBT e 18 representantes dos movimentos GLBT têm a tarefa de elaborar o regimento interno da Conferência, orientar as conferências estaduais e acompanhar a organização da Conferência.

Os 18 representantes GLBT vêm das seguintes organizações: ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais) - 7 vagas; ANTRA (Articulação Nacional de Travestis e Transexuais) – 2 vagas; Coletivo Nacional de Transexuais - 2 vagas; Articulação Brasileira de Lésbicas – 2 vagas; Rede Afro GLBT– 1 vaga; Liga Brasileira de Lésbicas – 2 vagas; ABRAGAY (Associação Brasileira de Gays) – 1 vaga; Grupo E-Jovem – 1 vaga.

12 dezembro 2007

Centro de Documentação GLBT

Nesta sexta-feira, 14/12, o Grupo Dignidade, de Curitiba, inaugurará o Centro de Documentação Prof. Dr. Luiz Mott, em homenagem a este pioneiro do movimento homossexual brasileiro e fundador do Grupo Gay da Bahia (1980). Além do próprio Luiz Mott, a inauguração contará com a presença do Deputado Federal Dr. Rosinha, assim como outras autoridades.
O Centro de Documentação (CEDOC) passará a arquivar e manter um acervo de materiais acumulados durante os 15 anos de existência do Grupo Dignidade (fundado em 14/03/1992), bem como materiais sobre a história do movimento homossexual brasileiro, pesquisados nos arquivos do Grupo Gay da Bahia em Salvador, e também no Arquivo Edgard Leuenroth, na UNICAMP, entre outras fontes. Os materiais contidos incluem uma coleção completa do "Lampião da Esquina", jornal inédito de 37 números, destinado ao público gay, que circulou ainda na época da ditadura militar, entre 1978e 1981, tendo como seus escritores vários celebridades da atualidade, como Aguinaldo Silva. Outros documentos disponíveis para consulta dizem respeito aos primeiros grupos organizados de homossexuais no Brasil, a partir de 1978.
CEDOC Prof. Dr. Luiz Mott também se dedicará a temas correlatos, em especial a educação sexual, voltada para o esclarecimento a respeito dos direitos sexuais e formas de abordar este assunto na sala de aula.
Outra contribuição significativa do CEDOC Prof. Dr. Luiz Mott é um acervo de em torno de 50 teses e dissertações sobre a temática GLBT. Além de consulta no próprio CEDOC, as teses, assim como outros materiais do CEDOC estão sendo disponibilizados gradativamente para consulta pela internet no item Catálogo, visando facilitar o acesso a estas informações.

06 dezembro 2007

Rosa von Praunheim

O Museu Gay de Berlim estreou a exposição "Rosa se aposenta" em homenagem ao cineasta homossexual Rosa von Praunheim, que completa 65 anos.
O cineasta, cujo verdadeiro nome é Holger Mischwitsky, nasceu em 1942, em Riga, Letônia, durante a ocupação alemã e seu nome é uma referência ao triângulo rosa, com o qual os nazistas marcavam homossexuais nos campos de concentração e à Praunheim, bairro de Frankfurt onde cresceu.
Praunheim tornou-se um importante ativista dos direitos GLS na Alemanha, que conclamava aos gays que assumissem a homossexualidade e enfrentassem as adversidades da sociedade homofóbica.

Ele é um dos mais famosos nomes do cinema gay com 70 filmes e títulos premiados no mundo inteiro como Triângulo Rosa (Paragraph 175), em que narra a perseguição dos nazistas aos homossexuais.
Atualmente, Von Praunheim trabalha no filme "Gays mortos, lésbicas vivas"

04 dezembro 2007

Processo Criativo

A revista Malagueta está publicando uma série de treze entrevistas que têm como bússola o artigo de Zadie Smith, Fail Better, publicado no The Guardian. O link para o artigo está desativado, mas o mesmo tem tido repercussão em toda a mídia (veja em http://serendip.brynmawr.edu/exchange/node/123 ou dê um google). O artigo ainda teve uma seqüela, Read Better, também desativado.
Mas porque essas duas estão aqui? Por que são poetas e ambas estão na minha comunidade Um Poema por dia. Só isso.
Caso haja um problema de copyright, deixem um comentário que deleto o post.

Mariana Ianelli e Cíntia Moscovich

Zadie Smith disse que “para os escritores, escrever bem não é simplesmente questão de habilidade mas, sim, de caráter”. E pergunta: “o que é preciso para escrever bem? Quais qualidades pessoais isso exige?” A visão de literatura é ponto central ou único?

Mariana Ianelli: Escrever com o corpo todo, numa aposta vital, é algo que vai muito além da técnica, bem como da moral individual, e supõe uma abertura para o incalculável. Henry Miller disse uma vez que “os livros que lemos são determinados por aquilo que somos”. O mesmo se dá com os livros que escrevemos, no sentido de que tudo o que nos faz ser o que somos, habilidade, caráter, inteligência, coração, enfim, tudo isso comparece no ato da escrita e, no entanto, nada disso por si só é capaz de garantir um bom trabalho. Um grande livro, a meu ver, prescinde de justificar-se por esta ou aquela qualidade de um homem por trás do escritor, até porque, o que nele pode haver de melhor, em geral, escapa aos limites da sua própria individualidade. Sem dúvida cabe ao escritor responder às exigências da linguagem. Como diz Octavio Paz, “a moral do poeta é verbal: é lealdade à palavra”. Acontece que a escrita contempla esse organismo vivo que é a língua e sua participação na saúde ou na agonia da memória, da imaginação, da história, enfim, de toda uma cultura de uma civilização. Cabe, pois, ancorar a palavra na vida, essa matéria ao mesmo tempo tão volátil e tão nítida que dá à literatura o sangue de uma outra realidade incompatível com a ordem do senso comum. O engajamento no humano, o estar no mundo e ser com os outros são forças que abraçam a experiência literária e a tensionam, de modo que ser leal à palavra significa ainda lealdade àquilo que a palavra ela mesma não pode nomear senão por essa fresta onde acontece a poesia, na coragem de amar.

Cíntia Moscovich: Não posso dizer com certeza que escrever seja, de fato, “questão de caráter”. Mas, certamente, é questão de habilidade e como tal é tratado entre os escritores — sendo tal habilidade uma das muitas coisas cobiçadas por todos. No entanto, “escrever bem” é só uma parte do trabalho literário, e disso também se sabe sobejamente. Em verdade, verdade mesmo, “escrever bem”, no sentido do trabalho literário, é a junção de vários fatores. Ou de várias virtudes ou de várias características, nem ruins nem boas. O escritor sabe que para fazer seu trabalho precisa de paciência, longa, longuíssima, ainda que ardente. E de muita, muita, mas muita, humildade, no sentido de nunca se considerar auto-suficiente e imune ou acima de qualquer crítica ou sugestão. Paciência e humildade, por si, não formam um escritor, é claro. Porque, acima de tudo, e tocamos no miolo da questão, para escrever o indivíduo precisa ter um olhar oblíquo, quase cínico, sobre os fatos da vida. Escritor algum é inocente, embora a literatura esteja eivada de bons sentimentos e de bom-mocismo. Não conheço nenhum escritor que acredita em tudo o que vê e ouve, a incredulidade e a dúvida são os motores da literatura. O problema todo é transmitir ao texto esse humour (chamemos assim), traduzir em palavras o que é apenas uma sensação de deslocamento frente aos acontecimentos que rendem histórias. Aí entra a habilidade com a palavra, o conhecimento do vernáculo para encontrar a palavra justa, que caiba naquilo sugerido pela percepção. E, já que se fala em percepção, o escritor precisa muito e muito de ter boa memória. Não para lembrar nomes e datas, mas para reviver o que sentiu — e o que ele sente, muitas vezes, é uma espécie sadia de hiperestesia, um acúmulo de reações intensas frente a estímulos que, banalmente, talvez sugerissem muito pouco a menos avisados. Talvez seja isso. Mas é necessário muito mais. Porque, e talvez responda à segunda parte da pergunta, a literatura é sempre o mais importante da vida, o principal, o lugar para onde todas as experiências convergem. Em suma: o escritor é um maníaco. E isso talvez nem seja virtude.

Antes de saber escrever bem, é preciso saber por que se escreve? Por que você escreve: para ser lido, para ler ou pela pura necessidade da escrita, que talvez esteja além da expressão? Enquanto escreve, sua vontade maior é agradar ou se satisfazer?

MI: Por não saber, eu diria, é que se escreve. E é essa aposta de risco, esse enigma justamente o que move o escritor, que o seduz e o ensina mais sobre si mesmo do que ele pensava já saber ou ser capaz. Escreve-se pelo inesperado que abriga a linguagem, pelo desconhecido que abriga o outro, pelo aceno de um encontro. O livro, para que se mantenha vivo, vai à procura dos leitores, um a um. Não espero agradar nem me satisfazer escrevendo, mas aposto no encontro, e que ele seja vertiginoso, de uma felicidade intensa e, quem sabe, perturbadora.

CM: Não, não é preciso saber por que se escreve. Porque nunca se sabe ao certo porque se escreve e saber porque se escreve não faz a menor diferença. Posso responder que se escreve para ser lido, para ler e pela pura necessidade da escrita, porque nada disso é excludente em relação à própria literatura. O escritor escreve para ser amado (isso quem me disse, com essas palavras, foi o escritor Luiz Antonio de Assis Brasil, que tem uma oficina de criação literária maravilhosa). Enquanto escrevo, preciso, a um só tempo, agradar meu leitor, seja quem for, e, claro, me satisfazer. E não sei bem porque escrevo. Só sei que é preciso.

Colocando-se apenas no papel de leitor de sua obra, existe a possibilidade de considerar qualquer trabalho seu um fracasso? Ao terminar de escrever um texto, você aceita e gosta do resultado unicamente porque é responsável por ele? Smith disse que “em algum lugar entre a superficialidade necessária do crítico e a desonestidade natural do escritor, a verdade com a qual julgamos o sucesso ou fracasso literário está perdida”. Como leitor e escritor, você concorda? Por que?

MI: Não vejo como dissociar escrita, leitura e autocrítica quando trabalhamos. Tampouco entendo por que a superficialidade do crítico seria necessária. A disposição para o silêncio na poesia, por exemplo, pode decantar mentalmente muitos excessos antes que um verso seja escrito. Por outro lado, nem sempre o escritor é o melhor leitor de sua obra, ou o melhor crítico, daí porque, apesar do maior zelo, nenhum trabalho está completamente a salvo do fracasso. A princípio, dois tipos de leitura de uma obra me parecem fundamentais para evitar um falso juízo ou uma interpretação precipitada: a leitura da obra ela mesma, na sua unidade orgânica, sem ignorar sua inserção no tempo e no espaço da literatura; a leitura da obra como parte de um processo bem mais amplo e indiscernível de construção, cujo mapeamento depende de uma visão de conjunto dos caminhos que o escritor percorreu até desembocar em uma linguagem que lhe é particular. Quando penso no meu primeiro livro, Trajetória de antes, passados já oito anos, a imagem que me vem é a de uma fruta colhida antes do tempo, como o próprio título já previa. E, no entanto, foi esse mesmo livro, com todos os seus desacertos, que me permitiu ir adiante. Não se trata apenas de aceitar uma obra por responsabilidade, mas de assumir os desdobramentos de uma vivência que jamais abole o risco do erro, muito ao contrário, que ousa errar sem ser gratuita, sem recuar diante do desconhecido ou do difícil. O sucesso ou o fracasso de um livro, a meu ver, em grande parte envolve esse gesto de coragem, que nada tem a ver com desonestidade.

CM: Existe, sim, a possibilidade de considerar muito do que eu escrevo e volto a ler um fracasso. Já pensei que era fracasso quase tudo o que eu escrevi e publiquei. E só publiquei porque, em releituras e reescrituras sucessivas e em consultas a leitores que prezo, fui mudando de opinião, até gostar, me apaixonar e, passado esse estado de paixão, amar. Amar mais ou menos como se ama um amigão do peito, com o qual a gente pode contar. Só que amar o texto não é igual a amar gente: nas pessoas, a gente ama apesar dos defeitos. O texto que se escreve só pode ser amado se a gente identifica o erro e sabe como, na próxima vez, evitá-lo. Por ser responsável pelo meu texto é que nunca acho bom o resultado a que cheguei, mesmo sabendo que, ao menos em teoria, jamais repetirei os erros cometidos. Desejo profundamente que tudo o que eu escrevo me ultrapasse e sobreviva. Talvez eu não concorde com Zadie Smith. Eu sei, de fato sabido, que a “desonestidade natural” do escritor nunca se dá com seu próprio texto. O escritor pode até ser leviano lendo textos alheios, mas ele lê com seriedade, quase crueldade, o que ele mesmo escreveu. Muitos autores que conheço comprovam o que vou dizer a seguir: o sujeito que ama e perdoa os deslizes de seu próprio texto é um medíocre. Um boçal. A glória narcisista do autor, que existe, se dá em outro momento, que é o de ver seu livro em livrarias ou seu nome na imprensa. Quando as pessoas amam, enfim, o que o autor escreveu. Mesmo que se ame incondicionalmente o próprio texto, como disse antes, não se perdoa o que nele é ruim e supérfluo. A grande obra-prima sempre está por vir. Quem ama de imediato, quem se jacta, quem é seguro sobre o que faz, vive de onanismo.

Alguns autores sentem necessidade de justificar seus estilos literários, muito mais quando algum crítico questiona sua validez. Naturalmente, pode ser uma tentativa de defender o que foi escrito. Tais explicações são essencialmente verdadeiras sempre? Até que ponto o estilo pode ser justificado? Há limites ou a liberdade de criação é prioridade?

MI: Não creio que um livro necessite justificar-se ou que um escritor tenha de sair em defesa do seu estilo. Quando não vêm para autopsiar ou encamisar uma obra, explicações podem dizer muitas coisas a seu respeito, nenhuma, porém, em que a obra deva se apoiar para suprir uma falta. Na minha opinião, só o poético responde suficientemente à poesia, na medida em que preserva, no seu modo singular de dizer, sua indeterminabilidade fundamental. Os limites da criação são os que a própria obra, dentro do processo criativo, impõe como responsabilidade ao escritor, e que existem não para constrangê-lo, mas para informar sua liberdade. O poeta tem da beleza o óvulo da forma, não as formas de aprisionar. Dos limites, o limite que a luz lhe dá.

CM: Não sei como responder. Nunca vi ninguém que eu respeite justificando estilo. Estilo, aliás, é coisa que nem se sabe direito o que é. Não que eu creia que, na defesa do próprio texto, o escritor seja sempre verdadeiro. O que, de fato, o escritor preza e defende é sua liberdade, um bem supremo. Não a liberdade de fazer besteiras, mas a de criar sem censuras, dentro de um sistema ético e moral próprio. Agora: quando o escritor tem que justificar seu texto, um dos dois, autor ou texto — ou ambos — é muito ruim. O texto tem de se manter de pé sozinho, sem bravatas ou xingamentos. À liberdade expressiva sempre corresponde a liberdade interpretativa, que é do outro. O escritor foi para a chuva, agüente se molhar. Se não suporta os fatos implicados no fazer literário, melhor que se dedique à agronomia.

A escritora inglesa considera a seguinte visão de TS Eliot limitada: “poesia não é uma expressão da personalidade, mas uma fuga dela”. E ela explica: “personalidade é muito mais do que detalhes autobiográficos, é o nosso próprio modo de processar o mundo, nossa maneira de ser, e não pode ser artificialmente retirado de nossas atividades: é nosso jeito de ser ativos”. Você acha que é preciso ter conhecimento e aproveitar um pouco dos dois lados na criação, ou apenas trabalhar com um deles é suficiente? A personalidade é um auxílio inevitável ao criar histórias e personagens, mas não é essencial que se saia dela para chamar esse processo realmente de criativo?

MI: Convém ampliar um pouco o foco da citação para compreender o que realmente diz T.S.Eliot no seu ensaio, pois quando ele fala em fugir da emoção, está se referindo à tarefa de trabalhá-la no nível poético, de servir-se dela como matéria-prima na criação de uma emoção nova, transfigurada, livre do âmbito exclusivamente pessoal da personalidade, ou seja, ir além do pessoal (e não simplesmente descartá-lo) empregando-o no aperfeiçoamento do trabalho literário, de modo que a obra seja fruto de uma combinação inesperada de “experiências e impressões”. A meu ver, essa despersonalização que propõe T.S. Eliot remete àquele formidável exercício de metamorfose que Elias Canetti reclama para a poesia moderna ao dizer, em um discurso intitulado O ofício do poeta, de 1976, que tanto mais um poeta abrirá suas “vias de acesso entre os homens” quanto mais ele for capaz de se transmudar em um outro, como Ulisses no palácio de Alcino, disfarçado de mendigo, narrando suas aventuras sem que os convivas saibam quem ele verdadeiramente é. Esse exercício camaleônico, digamos assim, não significa de modo algum uma artificialização do trabalho artístico, mas uma expansão do consciente para o indeterminado, uma abertura para o surpreendente, o desconhecido. O poeta faz que um outro surja e fale em seu lugar e esse outro não é apenas qualquer homem que ele, poeta, possa ser, mas também aquele outro que o poema procura para existir, ter um corpo e um rosto próprio, o rosto e o corpo de um leitor. Vejo nesse processo de metamorfose o coração da grande poesia.

CM: A literatura é a expressão de uma fuga às avessas da realidade. Isso é um jogo de palavras, claro. Mas a literatura não é a expressão da personalidade do autor. É preciso que o autor trabalhe com tudo o que tem à mão, sua própria personalidade, inclusive. Mas o autor precisa ser solidário com seus personagens, saber como eles são e se comportam, e não ficar reproduzindo a si mesmo. É bom que o autor saia de seu próprio umbigo durante a criação, embora mesmo essa saída, esta tentativa de evasão, se vá transformar nele, naquilo que faz dele um ser humano que é escritor. O importante é o processo e não o resultado a que se chega.

Os autores que, como Smith escreveu, fazem parte da geração pós-moderna foram criados para pensar que autenticidade é algo insignificante. O que faz um escritor ser autêntico hoje em dia? A recorrência ao clichê pode ser considerada parte de um possível fracasso? Por que?

MI: Na minha opinião, a autenticidade está associada não só a uma singularidade poética, mas sobretudo a um poder de anonimato que põe o escritor numa direção contrária à da espetacularização da sua persona. O convívio com o que alimenta e rodeia a literatura, sem ser propriamente literário, e sim de interesse humano numa dimensão mais profunda, seja de natureza mística, filosófica ou científica, também compõe o que há de mais específico e particular na voz de um escritor. Já o clichê é qualquer coisa esvaziada de sentido que adoece um texto, é a casca da palavra, a frase de efeito, o verso fatigado. O bom poeta, como já alertava Mário Faustino, deve vivificar a língua e o pensamento, não degenerá-los.

CM: Autencidade… Um escritor é autêntico quando cumpre o que ele mesmo espera dele, que é escrever. Mas com um mundo de possibilildades, com tantas pessoas e personagens no mundo, por que um escritor deve ser autêntico? Talvez estejamos falando em autores inovadores, singulares, o que é quase mesmo O clichê é, sim, o caminho do fracasso. O escritor não consegue fugir do lugar comum e reprisa fórmulas prontas. É uma frustração grande, muito grande, ter que apelar ao clichê.

No ensaio, a autora diz: “No mercado da ficção contemporânea, o escritor precisa entreter e ser reconhecível, menos que isso é visto como fracasso e rejeição dos leitores”. Que tipo de leitor você tem em mente quando escreve? O objetivo do escritor contemporâneo é apenas entreter quem lê seus livros? Por que?

MI: Não penso no leitor em termos de mercado, nem acho que a figura do escritor tenha de ser reconhecível. Penso sim que a obra deve ter sua presença, sua marca peculiar, ser um país à espera de quem o habite. Não acredito que a relação entre o autor e sua obra ou que a intimidade entre a obra e cada um de seus leitores se submeta a qualquer tipo de lógica industrial. Acredito sim no leitor que tem um rosto, um nome, e que pode vivenciar um livro inteiramente, tomando-o como seu. Em um mundo de constante apelo à produtividade e ao consumível, quando tudo solicita a pressa, o não-recolhimento, a distração, vejo na literatura uma clareira de silêncio, dentro de onde o tempo recupera sua densidade, e cada palavra tem sua porção de luz e sombra, sua participação inegociável na vida. Há uma frase de Mário Quintana de que sempre me lembro: “Sonhar é acordar-se para dentro”. A meu ver, essa é a grande tarefa do escritor, tanto hoje como sempre: acordar-nos para dentro. É esse sonho que nos dá a conhecer uma outra lucidez, inconsumível. Como diz uma das Estórias abensonhadas de Mia Couto: “nós temos olhos que se abrem para dentro, esses que usamos para ver os sonhos. O que acontece, meu filho, é que quase todos estão cegos, deixaram de ver esses outros que nos visitam”.

CM: Não creio que o escritor precise entreter ou ser reconhecível. O pensamento de Zadie é um tanto “regional”, talvez sirva para a realidade em que ela vive, em que tudo se consome e some num zás. Entretenimento é assistir a novela das oito, jogar futebol com os amigos. Não há compromissos no entretenimento, ele é fugidio, passageiro, ninguém lembra do nome do personagem central de um folhetim eletrônico depois que ele acaba. Escritor não se preocupa em entreter, embora os livros possam ser entretenimento. O escritor tem um compromisso transcendente com seu trabalho. Pode até entreter, mas a forma da arte é seu compromisso.

Você acha que o único dever do escritor é expressar sua visão de mundo? Por que? Se não é o único, quais são os deveres do escritor?

MI: O escritor deveria responder às exigências da sua própria linguagem, o que supõe certas aptidões e interesses que escapam ao domínio do literário e têm a ver, sim, com uma maneira muito particular de perceber e pensar o mundo. Mas essa visão de mundo, penso eu, que faz convergir imaginação e memória, está na base da construção de uma poética irredutível à subjetividade do escritor, uma poética que em alguma medida tenha em conta o fato essencial de que escritor e leitor são feitos da mesma substância. Daí porque os labirintos de Borges fazem parte de nós, o ímpeto selvagem de Rimbaud, a guitarra de Lorca contra o fascismo, as mulheres de Neruda e de Vinícius, as viagens de Ulisses, este verso de Walt Whitman: “cada átomo que pertence a mim pertence a você”.

CM: Nunca, nunca, nunca. O escritor não tem nada que ficar expressando sua visão de mundo, porque isso não interessa a ninguém. Visões de mundo são chatas, aborrecidas, panfletárias, demagógicas. Não sei quais são os deveres do escritor, se é que eles existem. O dever do escritor é escrever. De preferência, sem atentar a conceitos como dever. Literatura não serve para nada, já sabemos. Muito menos para encarcerar uma pessoa dentro de preceitos e obrigações.

A vontade de atingir a perfeição num texto, do gênero que for, é algo que persegue o autor? Por que? “O sonho do livro perfeito é, na verdade, o sonho da revelação perfeita de si mesmo”? Somente os escritores considerados gênios conseguem “dizer a verdade de sua própria concepção”?

MI: O livro absoluto talvez seja um dos encantadores emblemas da ficção, como a idéia do infinito e da eternidade. Aqueles célebres versos de William Blake, “Ver o mundo num grão de areia / E o mundo numa flor silvestre”, falam também desse sonho. Penso que a verdade no âmbito da literatura seja da ordem do mistério, da desmedida, enfim, daquilo que não se revela senão ultrapassando o limite do verbal. Gosto muito da definição que Marguerite Duras dá ao livro verdadeiro, referindo-se a ele como um livro “não mentido”, que traz em si erros magníficos, tão difíceis de ser conseguidos quanto preciosos. Creio que a perfeição em um texto abriga essa margem de imprevisibilidade.

CM: Sim, a vontade de atingir a perfeição num texto persegue o autor. Mas não deve ser confundida com a vontade da revelação perfeita de si mesmo. Literartura não é catarse, muito menos psicanálise. Por outro lado, só os gênios verdadeiros conseguem escrever em plenitude aquilo que conceberam num plano ideal.

Para escrever o Fail better, Zadie Smith conversou com outros autores. Um deles disse que seria fascinante saber de escritores vivos o que eles acham que está errado com sua escrita ou como imaginavam seus livros antes de criá-los; ou seja, sugerir um “mapa de desapontamentos”. Como seria esse mapa para você? Mencionando algum texto seu (romance, conto, poema, etc.), quais seriam os aspectos principais?

MI: Há um poema no meu terceiro livro, Passagens, que escrevi a partir da leitura do livro de Jó. Meu projeto inicial era de um único poema dividido em vinte e duas partes. Trabalhei nisso durante meses, e então escrevi a série das Lamentações e os Poemas para epitáfios. Cheguei a enviar essa primeira versão para a Nelly Novaes Coelho, que escreveu a apresentação do livro, na época chamado O enredo do Cão. Mas segui trabalhando no poema de Jó, até que o livro foi se desdobrando em um outro. Suprimi as divisões, cortei dezenas de versos, outros incluí em uma nova série, que deu origem à versão final do livro, Passagens. Depois disso enviei a Nelly outro boneco e ela acabou escrevendo uma nova apresentação. Sempre me surpreendeu o poder que os livros têm de ir se metamorfoseando a partir do seu projeto original, às vezes até à revelia do autor. Mas vejo isso menos como um desapontamento do que um encantamento diante do inesperado. Almádena, que publiquei recentemente, também passou por essa confluência com o acaso. Depois do livro pronto, fui ao Sermão de Quarta-Feira de Cinzas, de Antonio Vieira, e encontrei ali a epígrafe de abertura para cada um dos poemas, como se eles tivessem sido premeditados desde o início sob um espírito de circularidade, o que de fato não aconteceu. A inserção das epígrafes, no entanto, abriu um novo caminho de leitura do livro, antes imprevisível para mim, que resgata a atualidade do pensamento de Vieira para além de um contexto religioso.

CM: Não sei como seria esse mapa. Sei que seria grande. Tão grande que aqui, agora, seria difícil compor. Sinceramente, não tenho tempo ou coragem de fazer esse mapa, que se tornaria público. Fazendo um rabisco de mapa, eu acho que escreveria melhor se escrevesse menos, se conseguisse maior concisão e mais humor. Eu falhei em conseguir muitas coisas, mas falhei principalmente numa coisa essencial: conseguir tempo e solidão para escrever. Não posso perder o pouco tempo que tenho em lamúrias, em revisar diante de outras pessoas meus erros, em me preocupar em demonstrações de humildade. Também sou vaidosa, também minha auto-estima é grande a ponto de ter muitos desapontamentos. Admitir meus erros em foro íntimo é essencial, mas praça pública não é terreno para isso. Prefiro que os outros me digam onde errei e onde acertei. Aliás, melhor que me digam onde acertei. Todo o resto deve ser o errado.

02 dezembro 2007

Orides Fontela

Rosa, rosas. A primeira cor.
Rosas que os cavalos
esmagam.

01 dezembro 2007

A Meia Parisiense

é uma série...hilária!!!

Diferent

Um bom filme sobre ser diferente!"!

11 novembro 2007

Elizabeth Barret Browning

A tradução e Manuel Bandeira para o poema de Elizabeth Barret Browning:

Amo-te em cada dia, hora e segundo:
À luz do Sol, na noite sossegada.
E é tão pura a paixão de que me inundo
Quanto o pudor dos que não pedem nada.

Amo-te com o doer das velhas penas;
Com sorrisos, com lágrimas de prece,
E a fé da minha infância, ingênua e forte.
Amo-te até nas coisas mais pequenas.

Por toda a vida. E, assim Deus o quiser,
Ainda mais te amarei depois da morte.
Amo-te quanto em largo, alto e profundo

Minhalma alcança quando, transportada,
Sente, alongando os olhos deste mundo,
Os fins do Ser, a Graça entressonhada.

Poema de Amor II

Poema de Amor

Soneto XLIII

How do I love thee? Let me count the ways.
I love thee to the depth and breadth and height
My soul can reach, when feeling out of sight
For the ends of Being and ideal Grace.

I love thee to the level of everyday's
Most quiet need, by sun and candlelight.
I love thee freely, as men strive for Right;
I love thee purely, as they turn from Praise.

I love thee with the passion put to use
In my old griefs, and with my childhood's faith.
I love thee with a love I seemed to lose

With my lost saints,—I love thee with the breath,
Smiles, tears, of all my life!—and, if God choose,
I shall but love thee better after death.
—number Forty-Three

Poema de Amor

08 novembro 2007

Queer Art

Visite o site: www.queer-art.blogspot.com e divirta-se!
O livro acima é fruto de uma workshop feita na galeria.

Má Notícia

Ao contrário das expectativas que os espertinhos fazem questão de anunciar, tentando assim justificar um comportamento quase criminoso, a vacina contra a AIDS mostrou-se inócua, ou melhor, tornou mais propensos a infecções os doentes que a receberam.

Mais detalhes em http://www.365gay.com/Newscon07/11/110807hiv.htm

04 novembro 2007

Lorca



Gazel do amor desesperado

A noite não quer vir
para que tu não venhas,
nem eu possa ir.

Mas eu irei,
inda que um sol de lacraus me como a fronte.

Mas tu virás
com a língua queimada pela chuva de sal.

O dia não quer vir
para que tu não venhas,
nem eu possa ir.

Mas eu irei
entregando aos sapos meu mordido cravo.

Mas tu virás
pelas turvas cloacas da escuridade.

Nem a noite nem o dia querem vir
para que por ti morra
e tu morras por mim.

O Amor Acaba


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema, como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado, às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba; no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo, dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes, e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra, e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade; o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor acaba.

(Paulo Mendes Campos in: O amor acaba: crônicas líricas e existenciais. 2a ed., Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000, p. 21-22).

Wilfred Owen

Greater Love



Red lips are not so red
As the stained stones kissed by the English dead.
Kindness of wooed and wooer
Seems shame to their love pure.
O Love, your eyes lose lure
When I behold eyes blinded in my stead!

Your slender attitude
Trembles not exquisite like limbs knife-sweweed,
Rolling and rolling there
Where God seems not to care;
Till the fierce Love they bear
Cramps them in death's extreme decrepitude.

Your voice sings not so soft, -
Though even as wind murmuring through raftered loft, -
Your dear voice is not dear,
Gentle, and evening clear,
As theirs whom none now hear
Now earth has stopped their piteous mouths that coughed.

Heart, you were never hot,
not large, nor full like hearts made great with shot;
And though your hand be pale,
Paler are all wich trail
Your cross through flame and hail:
Weep, you may weep, for you may touch them not.


Powered by ScribeFire.

29 outubro 2007

Exercício

José Castelo, no Portal Literal ministra (ai...)um curso on line. Este exercício está lá. Quem se arrisca??

EXERCÍCIO DAS PROIBIÇÕES



Escreva um conto, que tenha no máximo 5 mil caracteres com espaços, ambientado na praia de Copacabana.

As
100 palavras que constam da lista abaixo não podem ser usadas, estão
proibidas. A idéia desse exercício é levar o aluno a refletir sobre as
facilidades oferecidas por clichês, lugares comuns, e tudo o mais que
escrevemos "sem pensar". Eles podem ser úteis para a publicidade, para
o marketing, para a propaganda, até para o jornalismo – não para a
literatura.


1- água de coco


2- amendoim


3- areia


4- asa delta


5- avião


6- barco


7- barraca


8- barriga


9- bermudas


10- bíceps


11- biquíni


12- bicicleta


13- biscoito


14- bola


15- boné


16- bronzeador


17- bunda


18- cachorro


19- calçadão


20- calor


21- camarão


22- caminhada


23- campeonato


24- canga


25- cedê


26- cerveja


27- céu


28- chapéu


29- chinelo


30- chuva


31- cochas


32- cooper


33- COPACABANA


34- conversa fiada


35- domingo


36- ducha


37- esporte


38- esteira


39- estrela


40- flacidez


41- futebol


42- futevôlei


43- galera


44- garota


45- garotão


46- ginástica


47- horizonte


48- ilha


49- jornal


50- livro


51- lua


52- mar


53- mate


54- mulher


55- músculos


56- namoro


57- navio


58- oceano


59- óculos


60- óleo


61- ondas


62- panfleto


63- paquera


64- patins


65- peitos


66- pelada


67- peteca


68- picolé


69- praia


70- prancha


71- propaganda


72- protesto


73- protetor solar


74- publicidade


75- quiosque


76- rádio


77- rede


78- refrigerante


79- revéillon


80- revista


81- sábado


82- sandália


83- sexo


84- show


85- sol


86- som


87- soneca


88- sorvete


89- suco


90- sunga


91- suor


92- surfe


93- tanga


94- tênis


95- tira-gosto


96- toalha


97- trânsito


98- turma


99- vôlei


100- vôo-livre



Powered by ScribeFire.

Marília,,,,""""""


Escorpiões e a Esquiva



pela quarta ou quinta vez
tenta dar uma cronologia: me
deitei e parecia um deserto aquela
areia salgada.
- mas estamos em méxico city, diz,
estamos no ponto mais próximo
da esquiva.

eles vêm de noite, no campo,
quando uma nuvem se forma
e tudo está perdido, rente ao chão.
me deitei e tratei de ouvir os ruídos
dos escorpiões

mas não havia ruídos,
só o vento e os clarões.

tratei de ouvir
o barulho da fábrica
mas não ouvia nada
(conhecer pode
ser destruir)
só um eco ou
algo que se esquiva.


Powered by ScribeFire.

28 outubro 2007

Inspiração



Nestes tempos de desânimo, tristeza e falta de perspectivas, o importante é não deixar faltar inspiração.
Visite:
http://paginas.terra.com.br/arte/ReinodoCaos/bunny/b1.htm


Os Coelhinhos suicidas são o que há!!

22 outubro 2007

Camisinha

Alguém pode me dizer porque não temos uma campanha bem feita de prevenção das DSTs??

Gay Love

07 outubro 2007

Estopa


Casa nova, vida nova... para o Estopa também. E ele sabe disso, já tomou conta de todos nós.
É o novo rei, viva o rei!!

08 setembro 2007

Elizabeth Bishop

ONE ART

The art of losing isn’t hard to master;
So many things seem filled with the intent
To be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
Of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
Places, and names, and where it was you meant
to travel. None of this will bring disaster.

I lost my mother’s watch. And look! My last, or
Next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
Some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.

-Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan´t have lied. It´s evident
The art of losing’s not too hard to master
Though it may look (Write it!) like disaster.

UMA ARTE

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
De perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
Lugares, nomes, onde pensaste de férias
Ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
Ou a penúltima, de minhas casas queridas
Foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
Pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
Continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.

-Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda – escreva tudo! – lembre desastre.