29 novembro 2006

Portugal Gay

Quando escrevo que a vida ativista gay não pode se resumir a "casamento" e "combate à AIDS", é a coisas deste tipo que me refiro:
"PORTUGAL: Gisberta inspira peça de teatro
Terça-feira, 28 Novembro 2006

O homicídio da transsexual Gisberta, em fevereiro passado,(em Portugal) é o tema da peça «Auto do Branco de Neve e os seus Machões», que está a ser preparada pelo Teatro Viriato, de Viseu.

A peça, baseada num texto do poeta e romancista Armando Silva Carvalho, insere-se no projeto de teatro para jovens desenvolvido na 2ª edição do PANOS (Palcos Novos Palavras Novas), da Culturgest, e que em Viseu será orientado pelo encenador britânico Graeme Pulleyn.

O Teatro Viriato anunciou hoje que procura jovens entre os 14 e 20 anos que queiram entrar na peça, cuja preparação começará ainda este ano. As inscrições terminam a 15 de Dezembro.

Gisberta Salce Júnior, transsexual brasileira, foi mortalmente agredida por um grupo de adolescentes há cerca de nove meses, no Porto.

Na peça - diz o Teatro Viriato - aquele crime «mistura-se com a fantasia da «Branca de Neve e os Sete Anões» levando cada um a questionar-se sobre a sua influência no desenrolar da acção».

A estreia no Teatro Viriato está marcada para 5 de abril de 2007 e se a peça for uma das seis escolhidas entre os 25 participantes desta edição do PANOS, subirá também ao palco da Culturgest, entre 25 e 27 de Maio.

«Se o teatro é um caldeirão, onde se misturam ingredientes misteriosos, fantásticos, às vezes horrorosos, à procura de uma poção mágica que nos transporta, que nos alimenta e que nos faz delirar, «O Auto do Branco de Neve e os seus Machões» tem tudo que é preciso para se preparar um grande feitiço», considera Graeme Pulleyn.

Na peça em que os jovens de Viseu vão trabalhar, junta-se a fantasia de «Branca de Neve e os Sete Anões» com a realidade da morte de Gisberta e também «a eloquente poesia contemporânea de Armando Silva Carvalho» com «o teatro medieval do Gil Vicente».

«O autor do texto parte do assassinato da transsexual Gisberta por um grupo de rapazes menores e transfigura-o, recorrendo a personagens e situações da história infantil de Branca de Neve», explica o Teatro Viriato.

«O resultado é uma verdadeira farsa-trágica, que nos faz chorar e rir, que nos choca e que nos toca, uma explosiva mistela perigosa e encantadora», explica Graema Pulleyn.

Em «Auto do Branco de Neve e os seus Machões» é contada a vida de Gino/Ginette em três actos: «A Sala dos Espelhos», «O Baile» e «A Floresta».

A ação atravessa momentos como a definição do gênero do/a protagonista e o estar na discoteca, até ao «encontro com o grupo de adolescentes (que reagem com um misto de curiosidade e violência)», culminando com um final didático, em que o público «terá de ser responsável pela morte ou pela vida».

Graeme Pulleyn foi um dos fundadores do Teatro Regional da Serra do Montemuro, em Campo Benfeito (Castro Daire), onde trabalhou durante 12 anos como ator, encenador e diretor artístico. Em 2004, abandonou a companhia para seguir projetos pessoais e voltar a trabalhar com jovens atores.

Na primeira edição do PANOS, no ano letivo 2005/2006, o Teatro Viriato apresentou a peça Cidadania, de Mark Ravenhill, igualmente encenada por Graeme Pulleyn.

Inspirado no projeto Shell Connections do National Theatre de Londres, o PANOS - Palcos Novos Palavras Novas pretende aliar o teatro escolar/juvenil às novas dramaturgias.

(do site Portugalgay.pt)

27 novembro 2006

Calor!


É o verão que chega, preparando os corpos e os suores!
Ah! o que eu não daria por uma casa na serra!

25 novembro 2006

Apolo



Ainda o Kaváfi. A edição bilíngue da Odysseus é primorosa, embora um pouco cara.
Parq quem não quiser gastar, existe uma edição com tradução do José Paulo Paes, esgotada, mas fácil de encontrar em sebos.

Passagem

Aquilo que, timidamente, imaginou um escolar está patente,
manifesto diante de si. E vagueia, e passa a anoite,
e deixa-se arrastar. E, como é (para nossa arte) conveniente,
a seu sangue, novo e quente,
a volúpia desfruta. A seu corpo vence
uma ilícita embriaguez erótica; e os membros jovens
entregam-se a ela.
E é assim que um simples rapaz
se torna digno de que o vejamos, e é assim que pelo Elevado
Mundo da Poesia também ele passa, por um instante -
o rapaz sensitivo com seu sangue novo e quente.

24 novembro 2006

Com que roupa?


Casamento, por exemplo, aqui no Rio, com todo este calor: sem querer ser a noiva, uma roupa clara é "de trop"? Regata é só para a praia? Um amigo(??) convida vc para um churrasco no play (???!!!): bermuda e camiseta ou alguma coisa mais social?
Vc consegue conviver, ao mesmo tempo, com lã 120 e o calor do Rio? Que coisa!!!

Felice Picano


Não conheço nenhum livro dele editado em português, embora Like People in History e The Book of Lies estejam acima de 99 por cento da literatura gay publicada no Brasil.
Este poema é dele, embora ele não seja conhecido como poeta, e consta do Penguin Book of Homosexual verse, esgotadíssimo.


The Heart Has Its Reasons

Not because you didn't call.
I almost expected that.
Not because we set a date
you just couldn't make-
whatever your reasons.

Not because you never arrived,
never left a number to reach you.
For all I know you were hit by a car;
mowed down in some neighborhood war.

Not because the night I had planned
never got off the ground
never mind reach the heights.
We didn't have that much in common
except a good fit -
if you still can remember that fondly, that far.

No, not because you stopped a trip
never gave me the chance to decide
whether or not I'd take the ride,
whether I'd take the risk of true love or illusion.

But simple because
I straightened all day.
Washed all the glasses
changed pillows and sheets
cleaned out the closets
even laundered the drapes.
Did everything that was needed
if a guest like you was coming.

Did, in short, what could wait,
For that I could never forgive you.

Adoção

Está em todos os jornais, todos já sabemos.Mas e a vida, o dia-a-dia?
Que tal acompanhar um pouco para vermos o que realmente é isso?

17 novembro 2006

Continua....

Está lá, no mergulhão da Praça XV: "Tudo na Globo é mentira!!". E a Veja?

15 novembro 2006

Ele, o Judiciário!

Discute-se sempre qual o grande entrave para o País? Alguém disse claramente que é o Poder Judiciário, com todas as suas mazelas e meandros? Legal, imoral, amoral, ilegal, todas as palavras são manipuladas para que se encaixem nos seus (deles, é claro!) interesses!!!

Elizabeth Bishop

Este é um poema de Elizabeth Bishop(http://www.poetryconnection.net/poets/Elizabeth_Bishop), na tradução de Horácio Costa.. Nem sei se gosto muito desta tradução, mas o poema, nestes tempos, pode estar dizendo o que deveria ser gritado: talvez o processo da perda, conviver com a ausência, seja a grande lição a ser aprendida.

ONE ART

The art of losing isn’t hard to master;
So many things seem filled with the intent
To be lost that their loss is no disaster.

Lose something every day. Accept the fluster
Of lost door keys, the hour badly spent.
The art of losing isn’t hard to master.

Then practice losing farther, losing faster:
Places, and names, and where it was you meant
to travel. None of this will bring disaster.

I lost my mother’s watch. And look! My last, or
Next-to-last, of three loved houses went.
The art of losing isn’t hard to master.

I lost two cities, lovely ones. And, vaster,
Some realms I owned, two rivers, a continent.
I miss them, but it wasn’t a disaster.

-Even losing you (the joking voice, a gesture
I love) I shan´t have lied. It´s evident
The art of losing’s not too hard to master
Though it may look (Write it!)like disaster.

UMA ARTE

A arte de perder não tarda aprender;
tantas coisas parecem feitas com o molde
da perda que o perdê-las não traz desastre.

Perca algo a cada dia. Aceita o susto
De perder chaves, e a hora passada embalde.
A arte de perder não tarda aprender.

Pratica perder mais rápido mil coisas mais:
Lugares, nomes, onde pensaste de férias
Ir. Nenhuma perda trará desastre.

Perdi o relógio de minha mãe. A última,
Ou a penúltima, de minhas casas queridas
Foi-se. Não tarda aprender, a arte de perder.

Perdi duas cidades, eram deliciosas. E,
Pior, alguns reinos que tive, dois rios, um
Continente. Sinto sua falta, nenhum desastre.

-Mesmo perder-te a ti (a voz que ria, um ente
amado), mentir não posso. É evidente:
a arte de perder muito não tarda aprender,
embora a perda – escreva tudo! – lembre desastre.

14 novembro 2006

O tempo....

As discussões na internet e orkut, às vezes, traçam fachos de luz sobre assuntos que permaneciam capengas por ai. Este é um link para um excelente artigo do Marko Monteiro, o qual tomo a liberdade de divulgar. vale a visita, vale o tempo!

http://www.artnet.com.br/~marko/ohomoero.htm

07 novembro 2006

Kavafis

Já postei alguma coisa, mas tenho que falar da nova edição bilíngue - grego/português-
da Odysseus, que é uma beleza.Custa caro, mas vale cada centavo!

Jura

Jura de quando em quando
começar uma vida melhor.
Mas quando vem a noite, com seus próprios conselhos,]
com seus compromissos e com suas promessas;
mas quando vem a noite com sua própria força,
para a mesma alegria fatal de seu corpo
que quer e que reclama, perdido, ele retorna.

06 novembro 2006

GLS, GLBT, GLSTUVWXYZ

Estamos na moda, ou melhor, a midia resolveu focalizar o mundo gay novamente. Até reportagem na edição de domingo (5/11/06) de O Estadão!!!! Revista Rioshow, Revista Programa, lançamento de revista direcionada ao segmento, com direito até a Amauri Junior....Fancy!

Cole Porter

Adoro a música "You´re the top". Há uma paródia, suspeita de ter sido escrita pelo próprio Cole Porter, de You´re the top (..you´re Garbo's salary, you´re cellophane(!!!),... I'm a toy balloon that is fated soon to pop...), que é muito engraçada! Como o próprio organizador do livro escreve, esta é uma letra difícil de ter uma registro exato, já que praticamente todo mundo que a cantou acrescentou ou mudou alguma coisa!!! Originalmente, tem 7 (sete!) refrães (juro que eu consultei o Houaiss!!!), e a paródia do Cole Porter é esta:

You-re the top
You´re Miss Pinkham's tonic.
You´re the top!
You´re a high colonic.
You´re the burning heat of a bridal suite in use,
you´re the breasts of venus
You´re the King Kong´s penis,
You're self abuse.
You're an arch
in the Rome collection.
You´re the starch
In a groom's erection.
I"m a eunuch who
Has just been through an op,
but if, Baby, I'm the bottom
You´re the top.

Na verdade, tudo em Anything Goes é genial! Há I get a kick out of you, Where are the men?, You're the top!, Anything goes, Waltz down the aisle e, escrita especialmente para Ethel Merman, Kate the Great, com o maior volume de double entendre que eu já vi em uma letra de música!!!

04 novembro 2006

Mário de Sá-Carneiro


Ápice

O raio de sol da tarde
que uma janela perdida
refletiu
num instante indiferente -
arde,
numa lembraça esvaída,
À minha memória de hoje
subitamente...

seu efêmero arrepio
zig-zagueia, ondula, foge,
pela minha retentiva...
-e não poder adivinhar
por que mistério se me evoca
esta idéia fugitiva,
tão débil que mal me toca!...

-Ah! não sei por quê, mas certamente
aquele raio cadente
alguma coisa foi na minha sorte
que a sua projeção atravessou...

Tanto segredo no destino de uma vida...

É como a idéia de Norte,
Preconcebida,
que sempre me acompanhou....