04 junho 2007

Italo Moriconi

MILONGA

para Pablo

De tamanho e peso
E calenturas
Se fez nosso amor
Casual, necessário
Lentamente veloz
Nos livramos dos ferros
Nos despimos do látex
De todas as máscaras
E demais artifícios
Enfrentamos com calma
Cada cara colada
Horizonte em pedaços
Por detrás do infinito
Sem lencóis, somente
Baralhando espaços
Velejantes terraços
A`perder-se de vista, no bairro do Sul.
Os fantasmas, brindamos
Cinzentos varais, foscos panos
Nos fitamos enfim
Com as pontas das línguas
A roçar, rumo ao pampa
Sob a pompa de peles
Que impelem sem mais.
Libertos dos couros
Novilhas e potros
Recém relaxados
Traçando seus fios
Sobre o dorso da aurora
Sob o céu de uma boca
Eu já nem sabia
Que esquina era aquela
(“São tantas, e iguais”, lera no Aira)
A nos redespertar
Nos despersonificar
Nas esquinas nas quilhas
Não mais se inscreviam
Rabiscos, sinais
Sobrenomes ou nomes
O rebenque zunia
Entre sombras de sono
Desejei acordar
Quantificar
E os olhos, relógios,
Globos terrestres
Roubados à lua.
Toma, te empresto,
Assim descobri
Sua verdade final
Um primeiro passo
Como a brisa fortuita
Que ainda batia
Sobre uns últimos véus.

(Buenos Aires, 1999)

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